Na favela a rua é a segunda, às vezes a primeira casa. A sociabilidade é intensa e mais do que proximidade, há laços fortíssimos de amizade, entre as mulheres cimentada pela cooperação e solidariedade, entre os homens, sobretudo pela jocosidade e o companheirismo. Mesmo eu, que era um estranho felizmente muito bem recebido, nunca deixava de cumprimentar e conversar com dúzias de pessoas toda vez que ia a Acari fazer trabalho de campo ou visitar as pessoas.
Não sou médico, muito menos epidemiologista. Mas é lógico que um ambiente social dessa natureza, somado à carência gritante de serviços que deveriam ser públicos, tudo isso faz da favela um campo aberto para a disseminação do corona vírus, para o desenvolvimento da doença e para uma verdadeira devastação em termos de vidas que serão ceifadas impiedosamente. A isto se some o estado crítico da saúde na cidade e no Estado do Rio de Janeiro e temos a receita certa para uma tragédia de dimensões tão grandiosas quanto desconhecidas.
Diante de um despresidente da República, alguns atos tomados pelo governador Witzel têm parecido corretos e sensatos, é verdade. Mas não devemos esquecer que este foi o primeiro governador do nosso estado a sobrevoar as favelas de metralhadora na mão. As medidas que tomou só servem para a classe média, mas ignoram totalmente as especificidades de quase metade da população do estado que ele governa. O covid-19 pode ser uma forma bem mais eficiente de extermínio do que as tropas do governador.
Basta ele não fazer nada.
Temos que exigir, para ontem, um grupo de medidas específicas para as favelas.
Menos do que isso é lavar as mãos em uma água mais suja do que a da CEDAE.