/CHUTEIRAS CORTANTES

CHUTEIRAS CORTANTES

As travas das chuteiras são navalhas, as pernas são foices. Eles seguram pela camisa, pelo calção, pelo braço e até pelo pescoço se for necessário. Conhecedores da anatomia da dor, pisam o peito do pé, esmagam tornozelos, contundem costelas, dilaceram joelhos e meniscos. Esbarram, empurram, cospem, xingam, provocam. Dão carrinhos que nem escavadeiras desembestadas na direção das pernas adversárias. Sobem para cabecear como se fossem monstros de sete braços, dando cotoveladas assassinas em todas as direções.
Diante do juiz, juram feito meninos fazendo a primeira comunhão que não entendem o motivo do cartão amarelo ou vermelho.
São os zagueiros-carniceiros, antítese do futebol-arte. Estava vendo um Benfica x Porto e gostaria de homenagear um deles: Pepe. Eu nunca entendi o sucesso de um dos jogadores mais desleais e cínicos que eu já vi jogar.
Há outro que também merece ser lembrado: Sérgio Ramos. Com o agravante de que, ao contrário de Pepe, este sabe jogar, toca bem a bola, é exímio cabeceador. Mas não resiste a barbarizar as canelas dos atacantes. Ao contrário de Pepe, não pratica a crueldade por necessidade, mas por gosto.
Não vejo a hora desses dois se aposentarem. Mas é óbvio que eles não param de se multiplicar. Como diz a música de um compositor da Portela, gravada por Paulinho da Viola: “a maldade não tem fim”.