Progressiva diferenciação entre o lundu e o batuque – este último reprimido pelas autoridades (s.XVIII)
Natureza e data do texto:
Aos poucos, as fontes do século XVIII atestam uma diferenciação entre o lundu, uma variante do batuque para consumo de brancos e mulatos frequentadores das festas dos negros e o batuque propriamente dito, exclusivamente negro. Como exemplo, temos uma correspondência entre D. José da Cunha, ex-governador de Pernambuco e o ministro Martinho de Melo e Castro, em Portugal. Na carta, datada de 1780, D. José opina pela reprovação às danças exclusivamente negras e pela liberação das outras, parecer este que foi acatado pelo ministro e comunicado ao governador de Pernambuco.
Texto:
“Recebi o aviso de V.Exa. de 9 de Junho em q. S.Mag. ordena dê meu parecer a visto das Cartas do Sto. Officio e do Governador de Pernambuco; pela do Sto. Officio vejo tratar de danças supersticiosas, e pela do Governador vejo tratar-se de danças que ainda que não sejão as mais santas não as considero Eu e pella carta do Governador, vejo serem as mesmas aquellas que os pretos divididos em Nagoens [nações] e com instrumentos próprios de cada huma nação e fazem voltas como Harlequins, e outros dançam com diversos movimentos do corpo, que ainda que não sejam os mais innocentes são como os Fandangos de Castella, e fofas de Portugal, e os Lundus dos Brancos e Pardos daquelle Paiz.”
(…)
“os Bailes que eu entendo serem de uma total reprovação são aquelles que os Pretos da Costa da Mina fazem as escondidas, ou em Cazas ou Roças com huma Preta Mestra [ialorixá] com Altar de Ídolos [peji]”
Fonte: TINHORÃO,J.R.Os sons dos negros no Brasil (cantos, danças, folguedos: origens). São Paulo:Art Editora, 1988.pp.43-44.