O exemplo do operário novato (Ferrucio Mauri) escutando o discurso de Mussolini anunciando a entrada na guerra, no dia em que os operários de Térni (cidade operária a 100 km de Roma) se reuniram na praça para escutar pelos alto-falantes
‘Levaram todos os operários das aciarias (…) à praça Tácito: ali estavam os alto-falantes, o rádio que iria transmitir o famoso discurso, chamemo-lo de guerra de Mussolini, não ? E a coisa que mais me impressionou (aqui pode haver diferentes opiniões, mas os que estavam perto de mim…), eu estava entusiasmado com a guerra; era um rapazote, a aventura; fazia quatro dias que estava na aciaria, era a ingenuidade da juventude; lembro-me que, quando entrei na aciaria, estava ansioso pelo momento em que estourasse a guerra. Porém, vi os que estavam ao meu redor muito preocupados, enquanto em Roma aplaudiam. Quero dizer que, pela primeira vez (e isto não é falar por falar), vi a seriedade obreira, a preocupação. Sem que conseguisse compreender as causas. Enquanto eu estava eufórico, enquanto em Roma aplaudiam a valer, ao meu redor (outros poderão dizer: ‘não, aplaudiram’), a meu redor, os operários que estavam comigo mostravam sua grande preocupação. Grande preocupação.’
(página 65)
PORTELLI, Alessandro. “A filosofia e os fatos: narração, interpretação e significado nas memórias e nas fontes orais”. Tempo 2, Revista do Departamento de História, Rio de Janeiro, dez. 1996.