“É claro que as perspectivas de Schwarz e Gledson se completam, e que questões de estrutura e de movimento são pertinentes e precisam estar presentes na análise da textura sempre complexa, quando não deliberadamente minada, do romance machadiano. Afinal, o próprio Machado já nos mandara para a todos para as calendas gregas no capítulo LXXII de Memórias póstumas de Brás Cubas. Lá está o crítico e bibliômano, um sujeito magro, amarelo e grisalho, que setenta anos depois, encontra um exemplar único das Memórias e se empenha em decifrar seus aparentes despropósitos. Esse sujeito, que parece amar os livros acima de todas as coisas, e que também é estrábico, míope, calvo e corcunda, vira e revira as palavras, examina-as por dentro e por fora, e finalmente desanima de tentar entender os seus significados. Isso soa como advertência, porém funciona como vertigem.”
Sidney Chalhoub. Machado de Assis, historiador. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.