CHALHOUB – Helena consegue o que quer de Estácio manipulando o sentimento de superioridade do rapaz
“a leitora atenta suspeitará talvez que Helena mentiu. (…) A mocinha pretende passear a cavalo, porém não quer pedir esse favor abertamente a Estácio, e logo ela inventa uma história que obriga o donzel do Andaraí a oferecer-lhe as lições. O fundamental no contexto é que Helena sabe induzir em Estácio o comportamento que lhe interessa a ela; em outras palavras, a moçoila conhece perfeitamente as cadeias de causa e efeito que constituem a estrutura mental do mancebo.”
No dia seguinte, Helena apresenta-se para a aula, fingindo-se da aluna mas sabendo cavalgar perfeitamente. Quando o irmão se surpreende ela admite ter sido tudo um “cálculo” e diante da objeção do irmão de que bastava lhe pedir, responde de forma surpreendente:
“- Não bastava. Havia um meio de lhe dar mais gosto em sair comigo; era fingir que não sabia montar. A ideia momentânea de sua superioridade neste assunto era bastante para lhe inspirar uma dedicação decidida.” (H, cap. VI)
Sidney Chalhoub. Machado de Assis, historiador. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 25.