/FONTES PARA A SALA DE AULA – Um urbanista francês e a “solução” para as favelas em 1930

FONTES PARA A SALA DE AULA – Um urbanista francês e a “solução” para as favelas em 1930

AGACHE E A “SOLUÇÃO” PARA AS FAVELAS

Natureza e data do texto:

Alfred Agache foi um urbanista francês contratado pela Prefeitura do então Distrito Federal no ano de 1927 para elaborar um plano de “remodelação, extensão e embelezamento” da cidade do Rio de Janeiro. No seu relatório, publicado em 1930 (A cidade do Rio de Janeiro, remodelação, extensão e embelezamento. Paris: Foyer Brèsilien) ele dedica um capítulo às favelas, vendo-as enquanto sério problema (incêndios, infecções epidêmicas) e propondo uma solução:

“as favelas constituem um perigo permanente para todos os bairros através do que se infiltra. A sua lepra suja a vizinhança das praias e os bairros mais graciosamente dotados pela natureza…

Sua destruição é importante não só pelo ponto de vista da ordem social e da segurança como sob o ponto de vista geral da cidade e de sua estética.”

(Apud ABREU,Maurício de A. Evolução Urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:IPLAN-RIO/Jorge Zahar ed.2.ed.pp.88-89, citado por QUIROGA, Ana Maria, “Violência e dominação: as favelas voltam à cena”, In: Sociedade e Estado, X(2),1995,p.433)

A origem das favelas seria a seguinte:

“Pouco a pouco surgem casinhas pertencentes a uma população pobre e heterogênea, nasce um princípio de organização social, assiste-se ao começo do sentimento de propriedade territorial. Famílias inteiras vivem ao lado uma da outra, criam-se laços de vizinhança, estabelecem-se costumes, desenvolve-se pequeno comércio: armazéns, botequins, alfaiates etc. (…) É um fato curioso, grave sob o ponto de vista social visto estimar-se a população das favelas em 200.000 almas, grave igualmente porque o abandono a uma liberdade individual ilimitada criada dos sérios obstáculos não só do ponto de vista da ordem social e da segurança, como sob o ponto de vista da higiene geral da cidade sem falar da estética.”

Como solução, propõe a transferência da população ‘provisória’ e sua substituição:

“Os morros que confinam com o porto, os da Conceição, da Providência e do Pinto, devido a sua proximidade do centro comercial e das vantagens higiênicas que lhes confere a sua elevação, poderão ser facilmente remodelados em vilas de residência para os pequenos funcionários e os pequenos empregados do comércio.”

ZYLBERBERG, Sonia. (1992), Morro da Providência: memórias da “favella”. Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes, Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural (Coleção Memória das Favelas, vol.1).  p. 33.