Os paradoxos da ciência na 2ª metade do século XX
HOBSBAWN
A Era dos Extremos, o breve século XX: 1914-1991
[1995]
p.506 i. –, a despeito de uma vasta literatura de divulgação, às vezes escrita pelos próprios especialistas;
ii. isto deriva do aumento da importância da ‘ciência avançada’ (“aquele conhecimento que não pode nem ser adquirido pela experiência diária, nem praticado ou compreendido sem muitos anos de escola, culminando numa formação de pós-graduação esotérica”;
p.507 ao contrário, no século XIX, vastas áreas ainda eram governadas “pela experiência, experimentação, habilidade e bom senso treinado e, na melhor das hipóteses, difusão sistemática de de conhecimento sobre as melhores práticas e técnicas existentes. Foi visivelmente o que aconteceu com a agricultura, construção civil e medicina, e na verdade com uma vasta gama de atividades que proporcionavam aos seres humanos suas necessidades e luxos.”;
iii. hoje em dia, ao contrário do passado, a grande ciência é uma coisa sem a qual a vida diária em toda a parte do globo seria inconcebível; por exemplo: “Sem a última palavra em genética, a Índia e a Indonésia não poderiam ter produzido alimentos suficientes para suas populações em explosão, e no fim do século a biotecnologia se tornara um elemento importante tanto na agricultura quanto na medicina.”
p.509 iv. Ao mesmo tempo em que a grande ciência torna-se cada vez mais distante do senso comum, e a pesquisa científica deriva em grande parte de equações matemáticas, a tecnologia dela derivada torna seu uso cada vez mais simples, a ponto de praticamente eliminar o elemento humano, como no caso do operador de caixa do supermercado;
p.510 v. a ciência torna-se indispensável e onipresente e a própria religião teve que reconhecê-lo, na prática:
p.511 o Vaticano comunica-se por satélite e submete o Santo Sudário a um teste de Carbono 14; o aiatolá Khomeini difundiu suas palavras do exterior para o Irã por meio de fitas cassete; os países islâmicos buscam ter armas nucleares;
AO MESMO TEMPO*, VIVE-SE UM TEMPO DE DESCONFIANÇA E MEDO ALIMENTADOS POR QUATRO SENTIMENTOS:
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“o de que a ciência é incompreensível”;
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“o de que suas consequências
p.511 tanto práticas quanto morais eram imprevisíveis e provavelmente catastróficas;
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“o de que ela acentuava o desamparo do indivíduo, e solapava a autoridade”;
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“o sentimento de que, na medida em que a ciência interferia na ordem natural das coisas, era inerentemente perigosa”;
os dois primeiros medos eram compartilhados por cientistas e leigos, sublinha o autor
* Na verdade, uma coisa parece derivar da outra como Giddens demonstra, ao falar da confiança em sistemas abstratos (ou peritos) no seu As consequências da modernidade;