Fenômenos de transferência de datas públicas
O exemplo da confusão entre a I e a II Guerra mundiais
observando as comemorações acerca do fim da guerra, percebe-se que embora haja duas datas, uma para o fim da I GM (11 nov) e outra para o fim da II GM (8 maio), na prática, “quase que espontânea e automaticamente” as populações de diversas regiões francesas só comemoram o 11 novembro, enquanto o 8 de maio é visto como um feriado qualquer. “As memórias individuais e a atuação das associações de ex-combatentes juntavam-se para atribuir à I GM um peso maior para a história da França do que a Segunda, através de uma memória mais traumática, ligada ao número de vítimas.”
E mais, como a Libertação e o fim da guerra deram-se em datas diferentes (a libertação de Paris na 2ª metade de 1944 e não em 8 de maio de 1945, p.ex) para cada região, a memória (local) predomina sobre a cronologia política, “ainda que esta última esteja mais fortemente investida pela retórica, até mesmo pela reconstrução historiográfica.”
(página 203)
In: POLLAK,Michael. “Memória e identidade social”, Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.5, n.10,1992, pp.200-215.