Diferentes formas de se relacionar com a memória no caso americano e soviético
caso americano:
“sentimento patriótico” estudado por Michael Kammem (Mystic chords of memory. The transformation of tradition in american culture), em que o Estado (até os anos 50) teve um papel apagado enquanto os principais vetores de transmissão da memória foram as iniciativas privadas, locais e, sobretudo, das minorias étnicas, religiosas e raciais “Daí a dificuldade de construir uma identidade nacional fundada em um passado comum, à feição do sentimento republicano francês.”
caso soviético:
“Nos países, notadamente a ex-URSS, onde a história sempre legitimou a opressão, os debates entre história e memória e mesmo a possibilidade de empreender uma história da memória colocam-se em termos bem diferentes. Pierre Nora assinala que, se no Ocidente ‘a memória aliena e a história libera’, naquele país há que afirmar o inverso: ‘contra uma história que se transformou em prática da mentira em nome de uma pretensa cientificidade, o retorno à memória pode não ser o acesso imediato à verdade histórica, mas é certamente o símbolo da liberdade e da alternativa à tirania’.”
Mas há perigos:
“se a memória viva encerra inúmeras riquezas sobre o passado stalinista que os arquivos não poderiam certamente reconstituir integralmente, nem por isso ela apresenta menos riscos. Assim, a emancipação dos espíritos e das memórias alimenta a renovação historiográfica que se inicia, mas revigora também mitos e lendas tão perigosos e falaciosos como aqueles difundidos pelos comunistas no poder: exemplos não faltam na Tchecoslováquia, nos países bálticos e, pior ainda, na ex-Iugoslávia, onde a memória liberada gera reflexos ultranacionalistas que por definição se nutrem de uma escrita simplificada e deformada da história.”
(páginas 100-101)
ROUSSO,Henri. “A memória não é mais o que era” In: MORAES,M. & AMADO,J. (Orgs.) Usos e abusos da História Oral. Rio de Janeiro: FGV,1998.2.ed.