MIRE E VEJA
A ESTAÇÃO DE SAINT-LAZARE (1877), Claude Monet (1840 – 1926)
Em sua longa vida, Claude Monet viveu extremos. Passou por dificuldades financeiras, com os credores batendo à porta e no fim da vida vive confortavelmente em uma linda propriedade. Viu muitos dos seus quadros terem sua participação em salões oficiais ser recusada para depois ser consagrado enquanto pintor. O próprio nome do movimento do qual tomou parte, o impressionismo, foi fruto da reprovação de um crítico que visava ridicularizar o movimento, para só depois se tornar um emblema positivo. Os “impressionistas”, dentre eles Monet, pretendiam capturar luz e cor em movimento, daí os traços mais rápidos de suas composições que não pretendiam representar fielmente a realidade e sim cristalizar a fugacidade do tempo. O poeta Mallarmé faz um paralelo entre esta nova geração de pintores e as novas ideias radicais e democráticas na política. O escritor socialista Émile Zola também era entusiasta do grupo, que ele chamava de “atualistas”, pelo fato de tomarem como tema questões daquele tempo, como os centros urbanos, por exemplo.
O historiador da arte E.H. Goombrich, em sua The Story of Art, assinala que dois fatores influenciaram fortemente os impressionistas. O primeiro teria sido o surgimento da fotografia. Agora não cabia mais ao pintor copiar a realidade, já que a fotografia fazia isso com maior perfeição. A arte das gravuras japonesas, voltados para temas bastante prosaicos, também teria servido de inspiração aos pintores do movimento, estimulando-os a abandonarem as temáticas “clássicas”.
Um bom exemplo é o quadro “A Estação de São Lázaro”. Alguns críticos chegam a dizer que a estação ferroviária é representada como se fosse uma catedral moderna, numa espécie de celebração do movimento e da modernidade, tendo a máquina, no caso, o trem, bem ao centro. Notem que ele reforça a sensação de harmonia fazendo com que a fumaça da locomotiva seja azulada, fundindo-se ao céu. Como se dissesse: essa é a nova paisagem.
Claro que não era a intenção de Monet, mas não resisto a pensar, diante dessa nova realidade “esfumaçada”, marcada pela mudança, na frase de Marx no Manifesto Comunista (1848) “Tudo o que é sólido desmancha no ar”.