MIRE E VEJA

ESTRADAS PRINCIPAIS E ESTRADAS SECUNDÁRIAS (1929) , Paul Klee (1879-1940)

Óleo sobre tela, 83,7 x 63,5 cm, Museu Ludwig, Colônia

Esta pintura foi realizada após uma viagem de Klee ao Egito. Mesmo em sua maioria parecendo puras abstrações, as pinturas de Klee têm um título que dá uma pista, evocando uma figura ou uma representação. Klee também era mestre em inventar sinais e códigos condensados dirigindo a atenção de quem vê o quadro. No caso desta pintura, parece, sem dúvida, abstrata. O que vemos inicialmente é uma rede de retângulos organizados por linhas verticais e de diferentes larguras e alturas. Predominam as cores amareladas, azuladas e esverdeadas. O crítico Dietmar Elger analisa assim a obra:

“A superfície pálida tem a aparência de estar iluminada por detrás. As cores transparentes evocam a luz brilhante do Egito. Os retângulos inicialmente abstratos evocam associações com uma paisagem de campos cultivados. As linhas azuis horizontais da margem superior lembram assim um rio ou ondas a bater na praia. Ao centro, embaixo, há uma série de campos, que diminuem em perspectiva em direção ao topo. Deverá ser a estrada principal mencionada no título. Do lado esquerdo e direito estarão as secundárias. São irregulares, por vezes largas, por vezes estreitas e vão em direção ao horizonte. A coloração destas estradas é mais intensa que a principal e mais variada e estimulante.”

Note-se que a obra foi feita quando o pintor tinha 50 anos, época de avaliar os caminhos que seguiu e os que poderia ter seguido durante a sua vida, quando já estava até pensando em sair da Bauhaus. Música e literatura, além da pintura, sempre estiveram próximas dele, sempre representaram outras possibilidades, outros caminhos. No campo pessoal, Klee, que durante a juventude viveu muitas aventuras antes de se casar, considerava-se bissexual. Toda essa experiência de vida aponta para o título: “Estradas principais e estradas secundárias.” E notem também que o conjunto parece uma renda feita de retalhos, talvez alusão à ideia de como a nossa vida é tecida, para alguns por nós mesmos, para outros pelos deuses e pelo destino.

Nascido na Suíça e depois naturalizado alemão, Paul Klee era filho de músicos: o pai era professor de música e a mãe era cantora. Ele chegou a estudar violino e a tocar em uma orquestra um tempo, antes de abraçar totalmente a arte. Acaba casando-se com uma pianista alemã e morando em Munique, Também era escritor e teórico e professor na Bauhaus, escola de arte onde conheceu e tornou-se amigo de Kandinsky, mas que será fechada pelos nazistas em 1933. Acaba voltando para a Suíça, onde vem a falecer.