MIRE E VEJA
A PORTA PARA A LIBERDADE (1933), René Magritte (1898-1967)
Óleo sobre tela, 80 x60 cm, Museu Thyssen-Bornemisza, Madri
Uma janela debruçada sobre um lindo campo gramado com uma pequena elevação encimada por árvores de copa arredondada. Um céu azul perfeito. A cena chegaria a ser monótona na sua harmonia, se não fosse um pequeno detalhe: bem ao centro o vidro da janela se quebrou, ou melhor, se fragmentou em pedaços, cada um carregando parte da imagem que se vê da janela. Na verdade alguns pedaços de vidro ainda estão caindo em direção ao chão.
Este é um típico quadro de Magritte: com delicadeza e elegância, ele insere o insólito e o enigmático em uma cena que tinha tudo para ser pacata e até mesmo banal. A janela é um símbolo recorrente na sua obra. É o lugar de onde se vê, mas é também o que delimita a visão, estabelecendo um ponto de vista. A janela é também fronteira que pode ser cruzada, não é à toa que o quadro se chama “A porta para a liberdade”. Pode representar a passagem para o inconsciente. Seria a liberdade abdicar da janela e adentrar no próprio campo? Não há resposta segura, mas de qualquer forma Magritte conseguiu nos fazer pensar e duvidar daquilo que se vê, daquilo que pensamos ser a realidade.
René Magritte nasceu em uma família modesta na Bélgica. Começou a desenhar com 12 anos por influência do pai. Aos catorze anos sofreu o choque de perder a mãe, que cometeu suicídio jogando-se de uma ponte sobre um rio. Magritte chega a ganhar a vida como desenhista comercial antes de começar a pintar. Chegou a ir a Paris para se encontrar com o grupo surrealista mas sua pintura nunca se enquadrou totalmente na corrente, oscilando entre o surrealismo e o realismo mágico. Seus quadros têm uma leveza, apesar do aspecto perturbador e uma modernidade impressionante se pensarmos que alguns foram feitos há mais de 80 anos.