/MIRE E VEJA – OS JOGADORES DE CARTAS (1890-2) – Cézanne (1839-1906)

MIRE E VEJA – OS JOGADORES DE CARTAS (1890-2) – Cézanne (1839-1906)

MIRE E VEJA

OS JOGADORES DE CARTAS (1890-2), Cézanne (1839-1906)

Óleo sobre tela, 65 x 81 cm (The Metropolitan Museum of Art, New York)

Paul Cézanne não era fácil. Embora tenha casado e tido um filho, sua tendência era para o isolamento, para a solidão e o silêncio que lhe permitissem criar e sobretudo tentar alcançar seus ideais estéticos rigorosos. Ia a um bar frequentado por uma série de pintores como Manet, Dega, Monet e o escritor Émile Zola, de quem se tornou amigo. Cézanne, todavia, não conversava com quase ninguém, parecia estar fechado em si mesmo, se falava era meio bruto, tinha um olhar mal humorado e desprezava as convenções. Teve uma vida complicada pela doença e falta de recursos. Só fez sua primeira exposição individual aos 56 anos. Mas no fim da vida e depois da morte foi mais e mais o pintor dos pintores, sendo reconhecido como influência por boa parte dos movimentos artísticos do início do século XX, como o cubismo. Para Matisse: “Cézanne é realmente uma espécie de Pai eterno da pintura. Cézanne é o mestre de todos nós.” Picasso assinaria embaixo, tinha adoração por Cézanne. Cézanne era um pesquisador incansável e ousado, que não temia a reação dos críticos ou do público. A partir de 1866, por exemplo, começa a pintar também usando a espátula e até as mãos.

Gostava mesmo era de pintar ao ar livre e de aperfeiçoar sua arte. Muitas vezes pintava e repintava o mesmo quadro com variações, era praticamente um estudo. É o caso destes jogadores de cartas. Esta é uma das cinco versões do quadro pintadas por ele com modificações. Numa outra versão ele coloca somente um par de jogadores por exemplo. De qualquer maneira, neste quadro em particular percebe-se que Cézanne não queria contar uma história ou registrar um costume. Os homens estão totalmente absortos em suas cartas, sem olharem uns para os outros. Não há o menor sinal de comunicação. Cézanne não quer que haja nenhuma distração, quer que o espectador se concentre unicamente na qualidade da pintura, na sua forma. A solidez do corpo desses homens, provavelmente camponeses, sua seriedade, dão conta do clima em que transcorre essa disputa masculina por excelência. Os cachimbos pendurados na parede reforçam a ideia de indivíduos da mesma classe se enfrentando. Para Cézanne era sobretudo um desafio conseguir equilibrar a composição com estes elementos.