O Conde dos Arcos e as vantagens da batucada (s.XIX)
Natureza e data do texto:
O Conde dos Arcos, governador da Bahia no início do século XIX, defendeu a liberação dos batuques das diferentes nações africanas, como forma de evitar as revoltas:
Texto:
“Batuques olhados pelo governo são uma coisa e olhados pelos particulares da Bahia são outra diferentíssima. Estes olham para os batuques como para um ato ofensivo dos direitos dominicais, uns porque querem empregar seus escravos em serviço útil ao domingo também, e outros porque os querem ter naqueles dias ociosos à sua porta, para assim fazer parada de sua riqueza. O governo, porem, olha para os batuques como para um ato que obriga os negros, insensível e maquinalmente, de oito em oito dias, a renovar idéias de aversão recíproca que lhes eram naturais desde que nasceram, e que todavia se vão apagando pouco a pouco com a desgraça comum; idéias que podem considerar-se como o garante mais poderoso da segurança das grandes cidades do Brasil, pois que, se uma vez as diferentes nações da África se esquecerem totalmente da raiva com que a natureza as desuniu, e então os de Dahomey vierem a ser irmão com os nagôs, os gêges com os haúças, os tapas com os ashantis, e assim os demais, grandíssimo e inevitável perigo desde então assombrará e desolará o Brasil. E quem haverá que duvide que a desgraça tem o poder de fraternizar os desgraçados.”
Fonte: CARNEIRO,Edison. Antologia do Negro Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro,s.d. p.160.