MIRE E VEJA
CIGANA COM BEBÊ (1919), Amedeo Modigliani (1884-1920)
National Gallery of Art, Washington D.C., 115,9 x 73 cm, Óleo sobre tela
Um amigo o definiu como “o último boêmio autêntico”. Judeu italiano, aos catorze anos Modigliani já abandonara a escola para estudar pintura, segundo a lenda depois de ter visões delirantes de obras de arte por conta da febre tifóide. Aos vinte e dois anos chega em Paris, uma cidade que em 1906 tinha quase três milhões de habitantes. Torna-se amigo de um grupo de pintores célebres, dentre eles Picassso. Por alguns anos, cessa de pintar e se dedica à escultura, sendo muito influenciado pela arte africana, algo que se percebe no seu retorno à pintura. A partir daí seus retratos têm um estilo próprio, com as figuras alongadas, os olhos amendoados e uma certa sensualidade melancólica, com algo de sonho. Sem falar nas inúmeras pinturas de nus femininos que causaram escândalo à época por fugirem às convenções deste tipo de retrato (em algumas apareciam os pelos pubianos).
O quadro abaixo é um exemplo perfeito do estilo ímpar de Modigliani. Retrata uma cigana, em belos e exóticos trajes, segurando firmemente seu bebê com os dois braços e mãos entrelaçadas, talvez numa posição de defesa. A cabeça levemente inclinada, lindos olhos verdes cravados no pintor e uma boca pintada de vermelho mas ostentando um certo ar de desprezo ou desafio. A roupa e o fundo igualmente verdes põem em destaque a cor da pele morena da cigana, ao mesmo tempo em que combinam com seus olhos, como se a força neles presente pintasse todo o ambiente em torno.
Este quadro é de 1919, um ano antes da morte de Modigliani por tuberculose, aos 35 anos.