/ESTUDOS PROUSTIANOS – A obra tinha caráter planejado (sempre reafirmado por Proust) mas nada construído:

ESTUDOS PROUSTIANOS – A obra tinha caráter planejado (sempre reafirmado por Proust) mas nada construído:

Nada mais verdadeiro. Por isso a estrutura fundamental dessa obra, cujo caráter planejado Proust não se cansava de realçar, nada tinha de construído. E no entanto, ela obedece a um plano, como o desenho das linhas de nossas mãos ou o ordenamento dos estames no cálice de uma flor. Proust, essa velha criança, profundamente fatigado, deixou-se cair no seio da natureza não para sugar seu leite, mas para sonhar, embalado com as batidas do seu coração. É assim, em sua fraqueza, que precisamos vê-lo, para compreender a maneira feliz com que Jacques Rivière procurou interpretá-lo, a partir dessa fraqueza: ‘Marcel Proust morreu por inexperiência, a mesma que lhe permitiu escrever sua obra. Morreu por ser estranho ao mundo, e por não ter conseguido alterar as condições de vida que para ele se tinham tornado destruidoras. Morreu porque não sabia como se acende um fogo, como se abre uma janela’. E morreu, naturalmente, de sua asma nervosa.”
Walter Benjamin, “A imagem de Proust” In: Obras escolhidas – volume 1: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987. 3. ed. pp. 43-44.