ESTUDOS PROUSTIANOS – O sono e o sonho em Proust e em Freud
“O sono. Quem pensaria em começar um romance pelo sono? O herói que dorme afugenta os leitores, assim como o dono da casa que adormece na sala de estar faz os convidados irem embora. O início in media res da tragédia clássica foi esquecido, em proveito, talvez, de outra tragédia. Surgem os sonhos, que ‘se inserem nas atividades psicológicas da véspera’. Mas quem disse isso? Está nas primeiras linhas de No caminho de Swann? Ou de A interpretação dos sonhos? Durante o sono, não cessamos de refletir sobre o livro que estávamos lendo: uma igreja (em substituição a um ‘Tratado de arqueologia monumental’, talvez A arte religiosa do século XIII na França, de Émile Male), um quarteto, uma mulher nascida de uma falsa posição da coxa, uma obra (de Mignet) sobre a rivalidade entre Francisco I e Carlos V. Sonhar com um livro, com livros, não é próprio a um intelectual?”
TADIÉ, Jean-Yves. O lago desconhecido: Entre Proust e Freud. Porto Alegre: L&PM, 2017. p.15