/ESTUDOS PROUSTIANOS – Cocteau percebe o desejo de felicidade que habitava Proust

ESTUDOS PROUSTIANOS – Cocteau percebe o desejo de felicidade que habitava Proust

“Cocteau percebeu aquilo que deveria preocupar, em altíssimo grau, todo leitor de Proust: ele viu o desejo de felicidade – cego, insensato e frenético – que habitava esse homem. Esse desejo brilhava em seus olhos. Não eram olhos felizes. Mas a felicidade estava presente neles, no sentido que a palavra tem no jogo ou no amor. Não é difícil compreender por que esse dilacerante e explosivo impulso de felicidade que atravessa toda a obra de Proust passou em geral despercebido a seus leitores. O próprio Proust estimulou-os, em muitas passagens, a considerar sua obra na velha e cômoda perspectiva da privação, do heroísmo, do ascetismo. Nada é mais evidente para os alunos-modelo da vida que uma grande realização é o fruto do esforço, do sofrimento e da decepção. Que a felicidade também pudesse participar do Belo seria uma benção excessiva, e o ressentimento dessas pessoas jamais teria consolo.”
 Walter Benjamin, “A imagem de Proust” In: Obras escolhidas – volume 1: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987. 3. ed. p. 38.