/ESTUDOS PROUSTIANOS – Em Proust sobrevivem traços de idealismo que não determinam a significação da obra, pois a eternidade de Proust não é a do tempo infinito e sim do tempo entrecruzado

ESTUDOS PROUSTIANOS – Em Proust sobrevivem traços de idealismo que não determinam a significação da obra, pois a eternidade de Proust não é a do tempo infinito e sim do tempo entrecruzado

É verdade que sobrevivem em Proust alguns traços de idealismo. Porém não são eles que determinam a significação dessa obra. A eternidade que Proust nos faz vislumbrar não é a do tempo infinito, e sim a do tempo entrecruzado. Seu verdadeiro interesse é consagrado ao fluxo do tempo sob sua forma mais real, e por isso mesmo mais entrecruzada, que se manifesta com clareza na reminiscência (internamente) e no envelhecimento (externamente). Compreender a interação do envelhecimento e da reminiscência significa penetrar no coração do mundo proustiano, o universo dos entrecruzamentos. É o mundo em estado de semelhança, e nela reinam as ‘correspondências’, captadas inicialmente pelos românticos, e do modo mais íntimo por Baudelaire, mas que Proust foi o único a incorporar em sua existência vivida.”

Walter Benjamin, “A imagem de Proust” In: Obras escolhidas – volume 1: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987. 3. ed. p. 45.