ESTUDOS PROUSTIANOS – O papel da memória involuntária, capaz de enfrentar o envelhecimento
“É a obra da mémoire involontaire, da força rejuvenescedora capaz de enfrentar o implacável envelhecimento. Quando o passado se reflete no instante, úmido de orvalho, o choque doloroso do rejuvenescimento o condensa tão irresistivelmente como o lado de Guermantes se entrecruza com o lado de Swann, quando Proust, no 13o. volume [da edição utilizada por Benjamin], percorre uma vez mais a região de Combray, e percebe o entrelaçamento dos caminhos. No instante, a paisagem se agita como um vento. ‘Ah! Que le monde est grande à la clarté des lampes! Aux yeux du souvenir que le monde est petit!’ Proust conseguiu essa coisa gigantesca: deixar no instante o mundo inteiro envelhecer, em torno de uma vida humana inteira. Mas o que chamamos rejuvenescimento é justamente essa concentração na qual se consome com a velocidade do relâmpago o que de outra forma murcharia e se extinguiria gradualmente.”
Walter Benjamin, “A imagem de Proust” In: Obras escolhidas – volume 1: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987. 3. ed. pp. 43-44.