“Os horrores da guerra na Frente Ocidental teriam consequências ainda
mais tristes . Sem dúvida, a própria experiência ajudou a brutalizar tanto
a guerra como a politica: se uma podia ser feita sem contar os custos humanos
ou quaisquer outros, por que não a outra? Quase todos os que serviram na
Primeira Guerra Mundial- em sua esmagadora maioria soldados rasos
saíram dela inimigos convictos da guerra. Contudo, os ex-soldados que
haviam passado por aquele tipo de guerra sem se voltarem contra ela às vezes
extraíam da experiência partilhada de viver com a morte e a coragem um sentimento de incomunicável e bárbara superioridade inclusive em relação a
mulheres e não combatentes – que viria a formar as primeiras fileiras da
ultradireita do pós-guerra. Adolf Hitler era apenas um desses homens para
quem o fato de ter sido frontsoldat era a experiência formativa da vida.
Contudo, a reação oposta teve consequências igualmente negativas. Após a
guerra, tornou-se bastante evidente para os políticos, pelo menos nos países
democráticos, que os banhos de sangue de 1914-8 não seriam mais tolerados
pelos eleitores. A estratégia pós-1918 da Gra-Bretanha e da França, tal como
estratégia pós-Vietna nos EUA, baseava-se nessa crença. A curto prazo, isso
ajudou os alemães a ganhar a Segunda Guerra Mundial no Ocidente em 1940,
contra uma França empenhada em agachar-se por trás de suas fortificações
incompletas e, uma vez rompidas estas, simplesmente não querendo continuar
a luta, e uma Grã-Bretanha desesperada por evitar meter-se no tipo de guerra
terrestre maciça que dizimara seu povo em 1914-8. A longo prazo, os governos democráticos não resistiram à tentação de salvar as vidas de seus cidadãos,
tratando as dos países inimigos como totalmente descartáveis. O lançamento
da bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki em 1945 não foi justificado
como indispensável para a vitória, então absolutamente certa, mas como um
meio de salvar vidas de soldados americanos. É possível, no entanto, que a ideia de que isso viesse a impedir a URSS, aliada dos EUA, de reivindicar uma participação preponderante na derrota do Japão tampouco estivesse ausente das cabeças do governo americano.”