“O surrealismo, embora igualmente dedicado a rejeição da arte até então conhecida, igualmente dado a escândalos públicos e (como veremos) ainda mais atraído pela revolução social, era mais que um protesto negativo, como seria de esperar de um movimento centrado principalmente na França, um país onde toda moda exige uma teoria. Na verdade, podemos dizer que enquanto o dadaísmo naufragava no início da década de com a era de guerra e revolução que lhe dera origem, o surrealismo saia dela com o que se tem chamado de ‘uma súplica pela ressurreição da imaginação, baseada no Inconsciente revelado pela psicanálise, os símbolos e sonhos’ (Willett, 1978).
Sob certos aspectos, foi uma ressurreição, em trajes do século XX (ver a Era da revoluções, capítulo 14), porém com mais senso de absurdo e diversão. Ao contrário das vanguardas modernistas dominantes, mas como o dadaísmo, o surrealismo não se interessa pela inovação formal como tal: se
o Inconsciente se expressava num fluxo aleatório de palavras (‘escrita automática”), ou no meticuloso estilo acadêmico século XIX em que Salvador Dali(1904-89) pintava seus deliquescentes relógios em paisagens desertas, pouco importava. O que contava era reconhecer a capacidade da imaginação espontânea, não mediada por sistemas de controle racional, para extrair coesão do incoerente, e uma lógica aparentemente necessária do visivelmente ilógico ou mesmo impossível. O Castelo nos Pirineus, de René Magritte (1898-1967), cuidadosamente pintado à maneira de um postal sai do topo de uma rocha imensa, como se houvesse brotado ali Só que a rocha, como um ovo gigante
está flutuando no céu acima do mar, pintados com igual cuidado realista.
O surrealismo foi uma contribuição autenticação repertório das artes de vanguarda e sua novidade foi atestada por sua capacidade de causar impacto, incompreensão ou, o que era a mesma coisa, de provocar um riso às vezes embaraçado, mesmo entre os membros da vanguarda mais antiga.”
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