/MARC BLOCH – O que é que, em rigor, constitui a legitimidade de um esforço intelectual?

MARC BLOCH – O que é que, em rigor, constitui a legitimidade de um esforço intelectual?

“Mas aqui levanta-se uma nova questão: o que é que, em rigor, constitui a legitimidade de um esforço intelectual?

Ninguém, cuido eu, ousará dizer ainda hoje, com os positivistas de estrita observância, que o valor de uma pesquisa se mede, em tudo e por tudo, pela sua capacidade de servir à ação. A experiência não nos ensinou apenas que é impossível decidir antecipadamente se as especulações mais desinteressantes não virão a revelar-se, um dia, extraordinariamente prestáveis à prática. Seria condenar a humanidade a uma estranha mutilação recusar-lhe o direito de procurar, fora de toda preocupação de bem-estar, o apaziguamento das suas fontes intelectuais. Tivesse a história de ser eternamente indiferente ao Homo faber ou politicus já lhe bastaria, para sua defesa, ser reconhecida como necessária à plena realização do Homo sapiens. Entretanto, mesmo assim limitada, a questão não fica por isso logo resolvida.”

Marc Bloch. Introdução à História. Lisboa: Europa-América, 1976.