/PARA LER PROUST 5 – PERÍODOS DA HISTÓRIA FRANCESA mencionados na obra

PARA LER PROUST 5 – PERÍODOS DA HISTÓRIA FRANCESA mencionados na obra

PARA LER PROUST 5 – PERÍODOS DA HISTÓRIA FRANCESA mencionados na obra

Períodos:

Merovíngio (481-751): Após a queda do Império Romano, um processo lento e tumultuado ocorrido no século IV, a Gália é invadida por vários povos bárbaros vindos do norte, dentre eles os Francos. O primeiro chefe franco a se declarar rei foi Clóvis I, que estabeleceu sua capital em Paris em 481 e reinou até 511. Clóvis se converteu ao cristianismo e iniciou a dinastia merovíngia. O nome vem de Meroveu, lendário fundador da dinastia merovíngia, anterior a Clóvis I.

Carolíngio (751-987): Carlos Magno (de onde deriva o nome da dinastia) funda a dinastia carolíngia ao ser coroado rei em 768. Representou um período de fortalecimento do poder real e de esforços no sentido da unificação do território.

Capetos (987-1328): A dinastia começa com Hugo Capeto, conde de Paris, tomando o trono em 987. Os capetos governaram a França nos próximos oitocentos anos, sob nomes diferentes: capetos, Valois e Bourbons. Quando Luís XVI foi levado à guilhotina em 1793, durante a Revolução Francesa, foi chamado de cidadão Luís Capeto. Em Proust, a fictícia dinastia dos Guermantes datava a sua linhagem de um período anterior aos capetos, sendo descrita em um ponto como ‘uma família mais antiga do que os capetos’.

Valois (1328-1589): Sob os Valois os reis de França governavam pouco mais do que a terra em torno de Paris, a Île de France. Agora seus antigos vassalos, os duques da Normandia, da Borgonha e da Aquitânia eram bem mais poderosos. Durante boa parte da Idade Média a França só existia no mapa, mas não era, de fato, uma realidade política. A ameaça vinda da Inglaterra e mesmo das multidões de Paris, obrigou à transferência da capital de Paris para vários palácios na região do Loire durante um largo período (1403-1589). Depois do bem sucedido fim da Guerra dos Cem Anos (1337 a 1453) com a Inglaterra, o país se dividiu entre católicos e protestantes levando ao massacre dos últimos na mão dos primeiros (Massacre de São Bartolomeu em 1572) e à fuga dos protestantes, levando sua riqueza e seus talentos mercantis. Finalmente o líder protestante Henri de Navarre chega à conclusão de que “Paris vale uma missa” e se converte ao catolicismo. É coroado como rei Henrique IV em 1594 e quatro anos depois traz a corte real de volta para Paris, unificando o país e fundando a dinastia Bourbon.

Bourbon (1594-1793): Período de grande prosperidad e poder, tornando-se talvez o país mais poderoso da Europa. Pela primeira vez na história, Paris não precisava mais de muros defensivos. Luís XIV, o rei sol (1638-1715), mandou derrubá-los e abrir grandes avenidas. Foi neste momento que muitos membros da aristocracia se mudaram “para além-muros” para construir seus palácios no que depois seria conhecido como o 7o. Distrito (Arrondissement), o Faubourg Saint-Germain, que na obra é o local por excelência da aristocracia mais tradicional, em oposição ao Faubourg Saint-Honoré, tipicamente burguês. A expressão “Faubourg Saint-Honoré”, usada para descrever o meio da Duquesa de Guermantes, refere-se a esse período em que a aristocracia vivia em esplêndidos palácios na margem esquerda do Sena. Essa era a grande idade de ouro da cultura francesa, quando Racine (1639-1699, autor da Fedra, primeira peça que o herói assiste) e Molière (1622-1673, autor de uma peça que zomba da pretensão dos burgueses enriquecidos de se tornarem nobres: O burguês fidalgo) escreveram peças que depois o herói vai assistir Berma representar em Paris 300 anos depois. O ambiente supremamente confiante e civilizado do período é muito bem capturado nas cartas que Madame de Sévigné (1626-96) escreveu para a sua filha neste período. A avó e depois a mãe do narrador continuam a ler e a citar estas cartas no decorrer de todo o livro. Madame de Sévigné vivia no Marais, perto da casa de Swann na Île Saint-Louis.

Revolução Francesa (1789-1792): A revolução e a execução de Luís XVI marcaram o fim do Antigo Regime e do poder e relevância da velha aristocracia, como os Guermantes.

Primeira República (1792-1804): Vai do estabelecimento da república até o domínio de Napoleão I, que se torna imperador em 1804. Após o período do terror (1793-4), a França se encontra em guerra contra praticamente todos os países da Europa. Napoleão vai tomar o poder em 1799 (Consulado) e coroar-se imperador em 1804.

Primeiro Império (1804-1814): Embora derrotado em Waterloo, Napoleão e a França de seu tempo causam impacto no mundo até hoje. O novo sistema legal (o Código Napoleônico) e o sistema métrico são apenas duas das ideias transformadoras trazidas no bojo da época de Napoleão. Outras ideias revolucionárias, como o conceito de liberdade e o de nacionalismo, tiveram efeitos mais amplos. Durante os quinze anos de reinado de Napoleão ele criou uma classe totalmente nova de nobres e de aristocratas, provenientes das classes médias. A rivalidade entre a “velha nobreza” e a ascendente “nova nobreza” dos bonapartistas continua até os dias de hoje. A disputa entre os dois grupos foi um tema presente em Os miseráveis de Victor Hugo e um tema recorrente em Em busca do tempo perdido. A descrição do relacionamento entre Robert de Saint-Loup e seu oficial-comandante, o Príncipe de Borodino torna explicita bem essas diferenças (No caminho de Guermantes).

Durante a revolução, muitas das residências aristocráticas no Faubourg Saint-Germain haviam sido destruídas ou abandonadas quando seus proprietários fugiram do país. A nova aristocracia sob Napoleão preferia morar ao norte do rio e constrói seus palácios ao longo da rua Saint-Honoré. Geralmente decorados com estatuária e materiais das igrejas destruídas durante o terror, as residências do Faubourg Saint-Honoré abrigavam a nova aristocracia. Seus proprietários são todos aqueles que a revolução tornou proeminentes e ricos: fornecedores de armas, generais que haviam guerreado na Itália, ministros do governo, doutores, artistas e atores. Os Verdurin, cuja fortuna vinha da manufatura e de armamentos, eram uma típica família da nova aristocracia burguesa do Faubourg Saint-Honoré, assim como a rica família burguesa de Proust. Olhando para o sul por sobre o rio, estavam as velhas casas nobres do Faubourg Saint-Germain que inspiraram os sonhos românticos de Proust com um passado aristocrático, encarnado na família da Duquesa de Guermantes.

Restauração (1814-1830): A dinastia dos Bourboun volta ao poder, limitando o poder do rei mas tornando-o sagrado e inviolável. Com o retorno de Napoleão por cem dias em 1815, o rei tem que fugir, voltando depois que o corso é definitivamente vencido encerrado até a morte em Santa Helena. Luís XVIII reina com certa moderação e espírito conciliador, ao contrário do seu sucessor, Carlos X, que tenta um verdadeiro retorno ao Antigo Regime, gerando uma revolta em julho de 1830, chamada de “Os três gloriosos”.

Monarquia de julho (1830-1848): Burgueses moderados conseguem impor um novo rei, desta vez sob o controle do poder popular, o Duque de Orléans. O país experimenta um surto de industrialização e avançam os empreendimentos coloniais. Forte crise econômica a partir de 1846.

Segunda República (1848-52): Protestos reprimidos violentamente produzem um levante popular e o rei renuncia. É instituído o sufrágio universal.

Segundo Império (1852-1870): Em 1852 o sobrinho de Napoleão toma o poder e se declara o imperador Napoleão III. Foi um período de grande expansão e de grande prosperidade. Os pais de Proust cresceram e se casaram durante o Segundo Império, um período de relativa calma até julho de 1870, quando a Prússia de Bismarck invadiu a França. Os pais de Proust, Jeanne Weil e Adrien Proust casaram-se no dia seguinte ao da rendição francesa. Os franceses confiaram nas massivas fortificações que haviam erguido em Thiers. Mas os prussianos cercaram as muralhas e fizeram a população passar fome, além de bombardear a cidade por cima das muralhas. O exército francês sofreu a derrota mais ignóbil e humilhante. Depois de menos de dois meses de guerra, Napoleão III se rendeu em Sedan, em setembro de 1870 e foi para o exílio na Inglaterra, enquanto o resto da França continuou a lutar até março de 1871. Nesse momento, o povo de Paris, recusando-se a se render ou a aceitar o novo governo francês em Versalhes, declarou sua independência na forma da Comuna de Paris. Foi um momento terrível, a população comia o que houvesse: os cavalos da cavalaria, os animais do zoológico, seus próprios cães e gatos e finalmente os ratos da cidade.

Para escapar aos bombardeios e às lutas que ocorriam nas ruas, o doutor Adrien Proust levou sua esposa, em estado adiantado de gravidez, até a casa do tio dela no subúrbio de Auteil. A mãe de Proust deu à luz a poucas semanas da Semana Sangrenta, quando a Comuna foi arrasada e cruelmente destruída, com o assassinato dos seus participantes. O próprio Dr. Proust escapou por pouco de tiros e de morrer às mãos da multidão presente nas ruas. A indisposição nervosa e a fraqueza do bebê, que durariam a vida inteira, sempre foram atribuídas às condições do seu confinamento e aos sofrimentos que sua mãe experimentou durante estes terríveis nove meses.

Terceira República (1870-1940): Com a destruição da Comuna de Paris e a abdicação de Napoleão III, a França declarou a Terceira República, que conseguiu atravessar de forma bem sucedida as tribulações do Caso Dreyfuss. A Terceira República só terminou em 1940 com a invasão da França pelo exército alemão. Foi um período que assistiu à dominação de uma burguesia ascendente sobre uma aristocracia declinante, o triunfo de Faubourg Saint-Honoré sobre Faubourg Saint-Germain e o triunfo do caminho de Swann sobre o caminho de Guermantes.

Depois de um longo período de guerras e convulsões, altamente destrutivo, Paris conseguiu se reafirmar e entrou em um dos períodos mais excitantes e fabulosos da sua história ao final do século XIX. Monumentos públicos e esplêndidas residências privadas foram construídas; senhoras portando jóias e vestidos de seda, homens em cartolas de seda convergiam para a Opéra de Paris. Artistas, músicos e escritores de todo o mundo reuniam-se em cafés e boulevards. Picasso, Rodin, Roualt e Klimt competiam por mesas nos cafés com Seurat, Renoir, Pissarro e Sisley. Além das menções a artistas que ele conhecia pessoalmente, Proust criou quatro arquétipos para representar as diferentes artes. Bergotte era um amálgama de diferentes escritores contemporâneos, Elstir a combinação de vários pintores, Vinteuil representava compositores e Berma cantoras e atrizes da Belle Époque. No final do romance, quando tudo estiver arruinado, amizades tiverem sido traídas, reputações destruídas e carreiras rompidas, tudo que irá permanecer é a arte. Mesmo depois da morte de Bergotte, seus livros continuam, assim como as telas de Elstir e a pequena sonata de Vinteuil. Só a arte é real e eterna. Somente através da arte o Tempo poderá ser derrotado.

Este período, das últimas três décadas do século XIX seguidas do período que vai até a Grande Guerra, é chamado de Belle Époque.