ESTUDOS PROUSTIANOS – A importância da doença para a vida e obra de Proust
“Os médicos ficaram impotentes diante dessa doença. O mesmo não ocorreu com o romancista, que a colocou deliberadamente a seu serviço. Para começarmos com os aspectos exteriores, ele foi um regente magistral de sua enfermidade. (…) Alarmava seus amigos com os ritmos e alternâncias de sua doença, que temiam e esperavam o momento em que o escritor chegava no salão, depois da meia-noite, brisé de fatigue e somente por cinco minutos, como ele anunciava, embora acabasse ficando até o romper do dia, cansado demais para interromper sua conversa. (…) O importante não é, tampouco, que sua doença o privasse da vida mundana. A asma entrou em sua arte, se é que ela não é responsável por essa arte. Sua sintaxe imita o ritmo de suas crises de asfixia. Sua reflexão irônica, filosófica, didática, é sua maneira de recobrar o fôlego quando se liberta do peso das suas reminiscências.”
Walter Benjamin, “A imagem de Proust” In: Obras escolhidas – volume 1: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987. 3. ed. p. 48.