ESTUDOS PROUSTIANOS – Nos últimos anos da sua vida de salão desenvolveu a lisonja e a curiosidade
“Nos últimos anos de sua vida de salão, não desenvolveu apenas o vício da lisonja, em grau eminente e quase diríamos teológico, mas também o da curiosidade. Nos seus lábios havia um reflexo do sorriso que perpassa, como um fogo que se alastra, nos lábios das virgens insensatas, esculpidas no pórtico das catedrais que ele tanto amava. É o sorriso da curiosidade. Teria sido a curiosidade que fez dele um tão grande parodista? Mas o que significa, nesse caso, ‘parodista’? Pouco. Pois, se a palavra pode fazer justiça à sua malícia abissal, não faz justiça ao que existe de amargo, selvagem e mordaz em suas magníficas reportagens, escritas no estilo de Balzac, Flaubert, Saite-Beuve, Henri de Régnier, Michelet, Renan, dos Goncourts e, enfim, do seu querido Saint-Simon, e reunidas no volume Pastiches et mélanges.”
Walter Benjamin, “A imagem de Proust” In: Obras escolhidas – volume 1: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987. 3. ed. pp.42-43.