/ESTUDOS PROUSTIANOS – Proust e o mimetismo da curiosidade

ESTUDOS PROUSTIANOS – Proust e o mimetismo da curiosidade

O artifício genial que permitiu a composição dessa série, e constitui um momento fundamental de sua obra como um todo, é o mimetismo da curiosidade, no qual a paixão pela vida vegetativa desempenha um papel decisivo. Ortega y Gasset foi o primeiro a chamar a atenção para a existência vegetativa dos personagens proustianos, aderindo tenazmente aos seu torrão social, influenciados pelo sol do feudalismo, movidos pelo vento que sopra de Guermantes ou Méséglise e inseparavelmente entrelaçados na floresta do seu destino. É desse círculo social que deriva o mimetismo, como procedimento do romancista. Suas intuições mais exatas e mais evidentes pousam sobre seus objetos como pousam, sobre folhas, flores e galhos, insetos que não traem a sua presença até que um salto, uma batida de asas, um pulo, mostram ao observador assustado que uma vida própria se havia insinuado num mundo estranho, de forma incalculável e imperceptível. ‘A metáfora, por mais inesperada que seja’, diz Pierre-Quint, ‘adapta-se estreitamente aos seus pensamentos’.”
Walter Benjamin, “A imagem de Proust” In: Obras escolhidas – volume 1: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987. 3. ed. p.43.