Segundo sua concepção pessimista da vida, Proust vê o mundo dominado pelo tempo, que transforma os homens a cada dia.
O homem nunca é o mesmo, a cada instante uma parte dele morre e se torna outro. Seus sentimentos mudam e o mundo muda, porque ele o vê com outros olhos. Desagrega-se pouco a pouco e, aparentemente, não há nenhuma ligação entre o eu que foi e o que é. A mulher que amou, e por quem sofreu tanto, passa a ser, ao cabo de algum tempo, quase uma desconhecida para ele, como acontece com Swann em relação a Odette. O jardim que o narrador considerava, na infância, como um paraíso, perde os seus encantos quando ele o contempla com seus olhos de homem: enfim, o mundo e a própria vida perdem o significado que tinham outrora.
HARVEY, Vera Azambuja. Marcel Proust: realidade e criação. São Paulo: Perspectiva, 2007. p.20.