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MANTO DA APRESENTAÇÃO, Arthur Bispo do Rosário

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MANTO DA APRESENTAÇÃO, Arthur Bispo do Rosário

Em uma extraordinária biografia, Luciana Hidalgo conta a história de “Arthur Bispo do Rosário, senhor do labirinto”. Um grande artista que da sua pequena cela na Colônia Juliano Moreira acreditava cumprir uma missão ordenada por sete anjos: representar tudo que havia na Terra, para criar um mundo sem trevas nem abismos para apresentar a Deus no Juízo Final. E foi o que ele fez durante cinquenta anos, às vezes trabalhando 15, 18 horas seguidas. Uma das suas obras mais impressionantes é o chamado “Manto da Apresentação”. Nos ensina Luciana Hidalgo:

“De início, na falta de material, Bispo teria desfiado o próprio uniforme azul da Colônia para reaproveitar os fios em seus bordados. Desmanchou toda a veste, aproveitou linha a linha e deu início à teia que abrigaria os lotes de seu novo mundo. Ao desfazer o próprio uniforme, desconstruía um dos grandes símbolos do poder psiquiátrico e reutilizava a matéria-prima para construir seu universo paralelo, a sua utopia.

Em O prisioneiro da passagem – Arthur Bispo do Rosário, Bispo traçaria o esboço desse paraíso:
– Segundo foi determinado, Ele vai suspender a terra com a ajuda de dois mestres e, com um tremor de terra, arrasar o mundo, sabe? Aí não haverá mais trevas, abismos. Tudo isso será plano na terra. (…) No meu reino tudo será feito de ouro e prata, brilhante.

O universo segundo Arthur Bispo do Rosário ocuparia toda uma planície, sem treva, planalto ou precipício, sem doença mental, miséria ou tristeza. Uma ambição dessa complexidade incluía a confecção de um fichário do mundo, a representação de tudo o que havia na Terra, em miniaturas e bordados, para apresentação a Deus no Dia do Juízo Final.

À espera do dia último, Bispo preparou-se por toda uma vida. Bordou inclusive a mortalha sagrada para vestir no dia de sua passagem. A veste, que um dia seria catalogada pela crítica de arte como Manto da Apresentação, trazia em seu avesso, inscritos, os nomes de seus eleitos, em sua maioria mulheres, agraciados pelo mérito de subir ao céu sob sua recomendação.”

A primeira mostra individual de sua obra, feita meses depois da sua morte, em 1989, tinha seiscentas peças e ocupou três salas, o salão e o corredor do palacete do Parque Lage. No catálogo, o crítico Frederico Moraes estabeleceu relações entre a obra de Bispo e uma série de artistas de vanguarda do mundo inteiro e do Brasil como Hélio Oiticica. Em 1993 o MAM fez uma mostra com quase 800 obras. Em 1995 a obra de Bispo foi escolhida para representar o Brasil na Bienal de Veneza juntamente com o artista Nuno Ramos.