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Melancolia – Edvard Munch

MIRE E VEJA

 

MELANCOLIA (1894-95), Edvard Munch (1863-1944)

 

Óleo sobre tela, 81 x 100,5 cm (Bergen, Coleção Rasmus Meyer)

 

“Eu pinto as linhas e cores que comovem meu olho interior. Eu pinto de memória sem acrescentar o que quer que seja, sem detalhes que eu não tenha mais diante dos olhos. Isto explica a simplicidade dos quadros – o vazio evidente. Eu pintei as impressões da minha infância. As cores inquietas dos dias passados.”

 

Assim o pintor norueguês Edvard Munch explica seu “método”, seu propósito e sua originalidade. Ele teve uma infância difícil: perde a mãe aos cinco anos e vê a tuberculose levar a vida de uma irmã de 15 anos. Outra irmã será diagnosticada como histérica. Mais tarde, Munch iria avaliar que o medo da morte e da doença haviam sido fundamentais para o desenvolvimento da sua arte. Ele mesmo será internado algumas vezes devido a problemas nervosos e alcoolismo.

 

De qualquer forma, a arte sempre foi a saída para ele. Munch era um jovem decidido: aos 17 anos abandona os estudos regulares para se dedicar à pintura. Pertence a um círculo de vanguarda que logo se choca com o puritanismo da sociedade norueguesa. Em 1886, por exemplo, o seu quadro “A criança doente” gera indignação no público. Ao longo da sua carreira, por mais de uma vez, na Noruega e na Alemanha, exposições de seus quadros tiveram que ser interrompidas por conta da reação escandalizada do público. Sem falar em parte da crítica que às vezes nem mesmo aceitava que os quadros de Munch fossem vistos como arte devido ao predomínio do modelo naturalista. De qualquer forma, Munch vai aos poucos sendo aceito, a sensibilidade do público vai mudando e ao fim da vida ele é um artista respeitado e homenageado inclusive na sua terra natal.

 

“Melancolia” é a terceira versão de um quadro que havia iniciado para Munch a série de pinturas intitulada “O Friso da Vida: um poema sobre o amor, vida e morte”, onde está presente sua vida pessoal. Lembremos que Munch dizia que sua tarefa fundamental era “dissecar almas”.

 

Quanto ao quadro propriamente dito, a pose do homem com uma mão no queixo, uma expressão pensativa e uma roupa preta, já seria suficiente para justificar o título. Sentado sobre as pedras, diante do mar, ele na verdade parece olhar para dentro de si mesmo. É ainda mais importante que o mundo, para este homem, seja um conjunto de manchas, onde se distinguem pessoas, um barco, um cais, uma montanha e o mar. Mas onde tudo na verdade se mistura em uma atmosfera de alucinação que na verdade emana do estado de espírito do homem, da sua melancolia. As cores e a vida que existem na paisagem dão a entender que o problema não está na realidade mas na maneira de encará-la. Parece ser um dia de sol ou ao menos bom o suficiente para um casal, acompanhado de um remador, sair em passeio. Notem que acima da cabeça do homem, à direita, as cores são mais vivas e a vegetação tem um lindo verde. Até o mar, todavia, é representado como se fosse uma mancha imóvel. Em geral os traços do quadro são ondulantes, como no mais famoso quadro de Munch: “O grito”.