/MIRE E VEJA – O CAFÉ-DA-MANHÃ (1739), François Boucher (1703-1770)

MIRE E VEJA – O CAFÉ-DA-MANHÃ (1739), François Boucher (1703-1770)

MIRE E VEJA

O CAFÉ-DA-MANHÃ (1739), François Boucher (1703-1770)

Óleo sobre tela, 61.5 x 81.5 cm , Museu do Louvre

O que a leitora ou o leitor tem diante de si é uma verdadeira certidão de nascimento da família nuclear. Neste inocente café-da-manhã, aparecem características da grande mudança que começa a ocorrer na primeira metade do século XVIII. Um aposento pequeno, servido por uma lareira, com uma grande janela de vidro e isolado dos restantes. Até então, os aposentos estavam todos ligados sem nenhuma privacidade e para chegar a um aposento nos fundos, era preciso passar por todos os outros. Agora a utilização de um corredor permitirá a cada aposento uma separação, facilitando a privacidade.

Até o café da manhã era uma novidade, introduzida por Luís XV, o primeiro rei a começar o dia com um pãozinho e uma bebida quente. Antes a primeira refeição ocorria somente às 10 horas da manhã. Nesta cena temos um servidor trazendo chocolate quente, que à época levava canela e baunilha, e era considerado uma bebida apropriada para para senhoras, crianças e aristocratas em geral. As duas damas burguesas do quadro, bebem seu chocolate em fina porcelana chinesa.

A dama da direita ainda não se vestiu propriamente, está de negligée e com uma capa vermelha. Seu cabelo está coberto porque ela ainda não recebeu a visita do cabeleireiro que irá pentear e preparar seu cabelo. Tanto ela quanto a mulher que está à esquerda, estão tomando conta de crianças. Isso não era comum em 1739, este tipo de afeto e de cuidado com os pequenos por parte das mães. Normalmente eles eram cuidados por empregadas em casa ou até enviados para o campo, onde ficavam babás. Entre a aristocracia, aos sete anos, normalmente as meninas eram enviadas para conventos e os meninos para colégios internos.

Aqui nós temos duas crianças muito bem cuidadas. À esquerda, no colo de sua mãe, uma menina bem pequena, ainda com soninho, é alimentada na boca por sua mãe. À direita, temos uma criança também muito bem vestida, com um cavalinho de madeira no colo e uma boneca no chão, encostada em sua perna. Sua mãe, tomando chocolate, volta-se para a criança como a que perguntar se está faltando alguma coisa.Os olhares das duas mulheres são de atenção e afeto.

Boucher acaba assim por nos dar uma verdadeira aula de história social da família, ao captar com muita sutileza o surgimento de sentimentos novos, de uma nova mentalidade.