OS SETE SEGREDOS DE FLORA
Capítulo 36: FLORA DESAPARECE
— O que houve depois dela desmaiar?
— Ela estava inerte e pálida, dava medo. As pessoas ficaram apavoradas, nunca tinha acontecido, o culto era o momento mais importante da semana. Transcorria em paz. O Saulo e o índio não deixaram a gente chegar perto. Era o plano: sabiam o que fazer. Com a ajuda de mais um homem do grupo colocaram-na no banco traseiro do carro. Disseram que iriam levá-la até a cidadezinha próxima para ser socorrida. Não deixaram ninguém ir com eles, inclusive eu, que gritei o mais que pude com os dois para acompanhar Flora. Intuía o pior possível.
— Para onde a levaram?
— É o que vou contar. Duas horas depois o Saulo retornou sozinho, sem o xamã, dizendo que ela estava internada em uma clínica e que segundo os médicos iria se recuperar em alguns dias. O xamã teria ficado um pouco mais para fazer algumas orações porque Flora estaria carregada de más energias. Desconfiei da história. Flora não estava doente. Em uma clínica, os médicos não deixariam o índio velho interferir, ainda mais em nome de bobagem. Fiquei de olhos e ouvidos abertos.
— O que descobriu?
— De início, nada. Nem sinal do xamã, que costumava aparecer durante a semana. A rotina da comunidade não se alterou. O Saulo respondia a todos com um sorriso que a Flora estava bem, a cada dia melhor, logo retornaria. Aos que pediam para visitá-la, como fiz várias vezes, dizia que ela não podia ver ninguém, era uma determinação médica. Mas comecei a notar algo muito estranho.
— O que?
— De repente, o Saulo sumia, passava uma manhã inteira fora, desaparecia por uma tarde ou estava ausente na hora do jantar coletivo. Eu achava que ele estava indo visitar a Flora em segredo. Mas havia um enigma: se não podia ver ninguém, como é que estaria vendo logo o Saulo, que ela detestava? Nenhum médico permitiria uma coisa dessas. Sendo assim, concluí que ela não estava internada em clínica nenhuma. Saulo e o xamã a haviam levado para outro lugar. Um esconderijo onde o Saulo pudesse visitá-la livremente, para fazer o que bem entendesse com ela, que estaria possivelmente drogada. E vigiada pelo xamã. O problema era descobrir onde estava e libertá-la.