/OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 54: FLOR DE CACTO

OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 54: FLOR DE CACTO

OS SETE SEGREDOS DE FLORA

Capítulo 54: FLOR DE CACTO

17 de agosto de 2018

Um dia e tanto. Depois de passear com o Zorba pela região, aqui e ali percorrendo estradas de terra, bati o martelo na delimitação dos municípios para o estudo: além de Grão Mogol, Francisco Sá. É uma área de mais de 5.500 quilômetros quadrados. Minha pesquisa será exploratória, uma equipe propriamente dita irá aprofundá-la. Embora o meu objetivo seja o estudo dos efeitos do desmatamento sobre a fauna, não posso deixar de mencionar a riqueza florística da região, hoje em dia muito ameaçada: apenas nestes dois municípios há nove espécies endêmicas da região correndo perigo de extinção. Como o Discocatus horsti, uma linda flor de cacto branca. Essa planta é nativa do Brasil. É uma experiência única caminhar sobre pedras e de repente ver uma dessas flores, é um símbolo perfeito da riqueza natural do Cerrado. Pedro, com sua alma hippie, adoraria conhecer este ecossistema singular, em que a beleza se esconde sob uma aparente simplicidade. Iria mergulhar em todos os rios e riachos que encontrasse, de preferência nu.

Por duas vezes avistei um desses carrões ditos utilitários vindo atrás do Zorba. Era prateado, mas não pude ver o modelo ou a placa. Pode ser uma coincidência, mas não tive uma boa sensação. De longe, o motorista parecia com o homem que me seguiu ontem. Ainda é cedo para afirmar alguma coisa, mas é notável que na conversa com moradores o tema da diminuição do volume dos rios e do desaparecimento de pássaros e peixes seja recorrente. Quando passei na Casa do Artesão, por exemplo, tive a oportunidade de falar com várias mulheres que confeccionam um artesanato refinado, vendido até para lojas no Rio de Janeiro. Identificaram as décadas de 70 e 80 como o momento de aceleração desse processo. E nenhuma delas titubeou em apontar a Zerdau como a principal responsável. Durante o período tradicional de seca a falta d’água começa a ficar dramática. De um lado o lucro, do outro a sede, a perda dos cultivos, a morte dos animais. Tinham também a percepção do aumento dos incêndios e mais de uma falou da vontade de destruir as carvoarias, o que já andou acontecendo. Cresce a revolta dos geralistas.