/OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 51: MAPA DA DESTRUIÇÃO

OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 51: MAPA DA DESTRUIÇÃO

OS SETE SEGREDOS DE FLORA

Capítulo 51: MAPA DA DESTRUIÇÃO

14 de agosto de 2018

Passei o dia me aprontando para o que pode ser a última ida ao campo de pesquisa. Não vou a Andrequicé, o quadro lá caminha para o conflito aberto. Vou a Grão-Mogol, mais ao norte, continuar a investigação que desenvolvo há três anos. Ali, mais de 10% do território está plantado com eucalipto, com efeitos devastadores sobre a fauna e flora. Os fazendeiros não respeitam nem um parque estadual, cujas bordas foram invadidas, segundo os funcionários com quem conversei.

Comecei a fazer a mala e chequei o material: botas, chapéu, gravador, máquina fotográfica e carregador, anotações anteriores e computador. Fazia isso e pensava na história inacreditável da penetração do eucalipto em Minas. O governo federal qualificou o plantio de eucalipto como reflorestamento e ofereceu incentivos através do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal nos anos 60. Na década seguinte a coisa piorou: criaram a RURALMINAS, estatal que passou a disponibilizar terras devolutas para as empresas “reflorestadoras”, concedendo-as ou arrendando-as por preços irrisórios. As áreas mais atingidas, é claro, foram as mais pobres, o Norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha. De uma hora para a outra, as populações locais viram as chapadas de uso comunal serem tomadas, cercadas e transformadas em desertos verdes. É neste âmbito que deve ser entendida a revolta da população em Andrequicé e em outros lugares do sertão mineiro. A isto se somou uma diminuição acentuada dos já parcos recursos hídricos destas regiões. Resultado: no início da década de 1980 o eucalipto já estava presente em praticamente todos os municípios de Minas Gerais, estado campeão neste tipo de plantio. Minas consome cerca de 60% do carvão vegetal produzido no Brasil. O marketing destas empresas assassinas chama isso de “desenvolvimento limpo” e usa um belo eufemismo para o carvão: “biocombustível sólido renovável”. Quando li tive vontade de queimar o folheto.

Não tenho coragem de contar ao Pedro os detalhes do meu trabalho, é mais um dos segredos que guardo. Ele insistiria em vir e não quero que corra perigo. O meu coração já transborda de culpa.