/OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 41: VIA PARALELA

OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 41: VIA PARALELA

OS SETE SEGREDOS DE FLORA

Capítulo 41: VIA PARALELA

Faltava uma semana para o dia onze. Pedro se viu a pensar no número. Onze é ímpar e primo. É formado com um e um, a perfeita representação de um casal, de duas pessoas que se somam e viram outra coisa. E quando um está ausente? O que resta é bem menos do que um. O tempo, parado, cada dia uma montanha. As manhãs eram intermináveis, as tardes, intransponíveis e a noite infinita. Quando o sol nascia era um milagre, um alívio seguido da sensação de haver mais um à frente. Os pensamentos dele estavam divididos em duas vias paralelas. No presente cá estava ele jogando lixo fora, lavando louça, colocando roupa na máquina, planejando o que faria para o almoço, preparando a aula da tarde. Mas havia uma via paralela habitada pelas lembranças de Flora.

O amor negado ou, no caso dele, em suspenso, vinga-se acionando a memória. Ela não parava de chegar em casa transbordando a alegria quente que era sua marca registrada. Ficava olhando para ele com um par de olhos negros que paravam o tempo, o mundo, pois naquela hora nada mais existia. Ria sem parar das brincadeiras dele, por mais infantis que fossem, era o estado de felicidade que tomava conta dos dois quando estavam juntos. Pedro tentava bloquear os momentos em que se tocavam, o retorno às verdades da pele. Mas as cenas eram ondas quebrando sem cessar. Ia dormir pensando nela, ouvindo a sua voz ou ainda pior: olhando para ele. Acordava com Flora, passava o dia com ela. Era um cerco de ternura e saudade. Inescapável e impiedoso. Não há prisão pior do que a mente de um apaixonado.

Tinha momentos de intensa esperança. Via Flora de volta, agora livre dos seus segredos. Teria Flora por inteiro, o amor deles se assentaria em bases mais firmes. Em certas horas se desesperava. Havia ainda um último segredo. Ademais, se apercebera que em nenhum momento Flora prometera voltar depois das sete revelações. Ela levara todas as suas coisas. Poderia simplesmente desaparecer da vida dele. Não havia remédio para este tipo de dor. Sobreviveria? Sim. Mas com uma cicatriz na alma. A sensação de que a vida acabara. A certeza de que a felicidade seria um sonho que passou.