Capítulo 39: AVALANCHE
Depois que Ana Tereza terminou de contar a história é tudo aquilo atingiu Pedro feito uma avalanche que vai se formando aos poucos para depois desabar pela montanha com toda a força. Não podia imaginar que Flora tivesse passado por tanta coisa quando era jovem. Admirou a força que teve para superar um passado tão terrível. Embora a superação não tivesse sido completa: ela não conseguia falar sobre aquilo com ninguém. Pedro ainda não conseguia entender o porquê dela não se abrir com ele. Eles pareciam dividir todos os segredos, mas agora ele sabia que aquilo não era verdade. A Flora que ele amava, de certa maneira, era uma versão editada. Todos nós somos, escolhemos muito bem que impressão desejamos causar aos outros, manipulamos nossa identidade, salientamos determinados traços e abafamos outros. Mas se há uma coisa boa no amor é poder se largar sem medo e se mostrar para o outro de uma forma mais livre. Porque o amor verdadeiro é um pacote que inclui a compreensão, a empatia, o desejo de perdoar. Flora o subestimara? Não acreditara no amor dos dois?
Foi para casa carregando pedras. Tentou se animar: agora só restava um segredo. Telefonou para o Bola, chamando o amigo para contar as novidades.
Se Pedro era romântico, Bola era sentimental. Ouviu em um silêncio emocionado o mais novo capítulo das desventuras de sua amiga Flora. Correu para o banheiro para lavar o rosto que as lágrimas haviam inundado. Quando voltou, Pedro já tinha um copo d’água na mão. Depois que o amigo bebeu até a última gota, perguntou:
— Bola, não me conformo, porque ela não me contou?
— Cara, isso a gente só vai mesmo saber quando ela voltar. Essa última coisa do Amanhecer e dela amarrada em uma cabana é inacreditável. Imagina só os pensamentos que passaram pela cabeça da Flora quando estava naquela situação. Ela tinha dezessete anos. Ninguém sofre assim sem ser profundamente alterado. Se ela fosse te contar tudo viria a tona, aumentado pela dor que você iria sentir na frente dela.
— Você só está esquecendo de uma coisa, Bola?
— Do que?
— Essa não foi a última coisa, falta o sétimo segredo, fico apavorado de pensar no que pode ser…
