OS SETE SEGREDOS DE FLORA

Capítulo 47: SEU JUCA

— Quer que pare de ler, Bola, tá cansado?

— Tá louco, agora é que o diário está ficando bom…

Perguntei a Seu Zé por que ninguém fazia nada. A resposta foi mais do que contundente:

— Os homi grande tá tudo comendo na mão da Zerdau. É muito dinheiro moça, eles distribui pra polícia, prefeito, deputado. Só a gente não vê a cor dessa nota …

— Como assim?

— Uai, eles planta o eucalipto na terra aqui, mas tirante o dinheirinho que dão aos empregados, muitos de fora, pagam impostos em outras cidades, dizem até que escapam de pagar muita coisa, que nem o imposto de renda pega eles. O eucalipto seca nosso solo e o dinheiro deles molha a mão de muita gente importante por aí afora.

— E por que vocês não denunciam aos órgãos ambientais como o IBAMA, por exemplo?

— Dona Flora, é esse seu nome, não é?

— Sim.

— Aqui ninguém é herói não. A empresa, além de muito poderosa, também tem os seus jagunços. Aqui existia uma padaria cujo dono, Seu Juca, vivia dando entrevista em jornal reclamando da destruição das veredas, paixão maior desse homem que adorava passarinho, anta, tamanduá, tudo quanto é bicho que havia no mato. Como ele fazia isso desde pequeno, levado pelo pai dele, começou a perceber que os animais começaram a desaparecer. Foi daí que ele botou a boca no trombone e acusou a Zerdau.

— O que aconteceu?

— De início, nada, a gente pensou que a companhia não ia ligar pro Seu Juca. Os negócios continuaram igual: compra de terras, plantio e derrubada de eucalipto, cortadinho e levado naqueles caminhões para ser queimado e transformado em carvão.

— Mas a empresa fez alguma coisa?

— Bem, ninguém pode afirmar com certeza. O que se sabe é que a padaria do Seu Juca começou a ser assaltada toda hora. Ele continuou denunciando. Até que entraram lá, amarraram e bateram muito nele, um senhor já. Disseram que tinha boca grande e que por isso o sapo não tinha entrado no Céu, mas que se ele quisesse podiam mandar pro Céu, a mulher, os filhos e os netos dele.

— Não acredito…

— Pois é, moça. Seu Juca se mudou daqui em um mês e de lá pra cá o pessoal evita até de falar o nome Zerdau. Nós olha pro lado pra ver se não tem mais ninguém perto e dizemos: “eles”.