/OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 45: CERRADO

OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 45: CERRADO

OS SETE SEGREDOS DE FLORA

Capítulo 45: CERRADO

Além de Pedro, o grande amor da vida de Flora era o Cerrado mineiro, cenário de Grande sertão: veredas, livro que ela havia lido mais de cinco vezes. Tinha começado a pesquisar a destruição do Cerrado assim que se formou e foi trabalhar na ONG. A subpasta era um verdadeiro tesouro, continha os diários de todas as viagens exploratórias que ela havia feito nesse período de dez anos. Pedro leu a primeira entrada …

10 de agosto de 2008 – Andrequicé

Minha primeira viagem ao sertão de Minas Gerais. Sei que isso vai mudar minha vida para sempre. Do mesmo jeito que a leitura de Guimarães Rosa me transformou. Saí de madrugada, antes do sol. Em Petrópolis, a cerração ao subir a serra, já com os primeiros raios, uma coisa meio mística, a bruma que antecede uma revelação. Apenas passei por Belo Horizonte e prossegui na direção do norte. Vi a entrada de Cordisburgo com o coração apertado, não falta vontade de conhecer o local sagrado. Mas continuei até Andrequicé, terra de Manuelzão. É incrível a força de um símbolo positivo, tudo gira em torno da imagem dele neste pequeno distrito de Três Marias. Aliás, pouco antes da entrada para Andrequicé, logo depois de um posto de gasolina, avistei meu primeiro buritizal. Fiquei tão emocionada que escorreguei e caí. Descobri que a beleza é ainda mais poderosa se vista de uma posição de humildade. Depois do sublime, o horror. Andrequicé é uma pequena ilha cercada por um oceano de eucaliptos. Não consegui hospedagem na casa de uma simpática senhora, recomendada por amigos, pois todos os seus aposentos estavam tomados por empregados da empresa. Os que tomam conta do plantio da praga, os que trabalham em aviões pulverizando veneno sobre a plantação, os administradores, os carvoeiros, enfim, os que participam da destruição sistemática do Cerrado. Uma semana depois eu vi como fazem para varrer do solo todo e qualquer vestígio de um ecossistema ímpar. Dois tratores, unidos por uma grande corrente de ferro, vão avançando e arrancando árvores e arbustos pelo caminho. Todo tipo de bicho vai sendo desalojado e foge sabe-se lá para onde. É uma visão do apocalipse. Amanhã vou conversar com as pessoas.