/OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 46: ZERDAU

OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 46: ZERDAU

OS SETE SEGREDOS DE FLORA

Capítulo 46: ZERDAU

Li em voz alta para o Bola poder acompanhar o relato de Flora sobre sua primeira viagem ao sertão de Minas:

11 de janeiro de 2008:

Dormi na pensão de Dona Olga, uma senhora de certa idade, cuja irmã foi casada com Manuelzão. Aqui todo mundo tem uma história dele na manga. A mais bonita foi o próprio Rosa que contou em “Uma estória de amor”, inspirada na construção de uma capela para sua mãe por parte do velho vaqueiro. A igrejinha branca e azul emociona por sua singeleza. Também fiquei tocada ao visitar a casa em que Manuelzão viveu os últimos vinte anos de sua vida, agora transformada em uma espécie de memorial. Ao lado, o ateliê das bordadeiras de Andrequicé. Ali ouvi em primeira mão relatos acerca da destruição operada pela Zerdau. É uma empresa muito poderosa, a principal produtora de aço no Brasil e com atuação em dez países. O que faz em lugarejos como Andrequicé é uma covardia. Para ser produzido, além de cal e minério de ferro, o aço precisa de carvão. E a Zerdau obtém o carvão a partir do plantio e derrubada do eucalipto, fonte rápida e de fácil manejo. Pelo que as bordadeiras me contaram, os homens da Zerdau procuram pequenos proprietários em dificuldades, coisa fácil de se achar por aqui. Oferecem a eles quantias de dinheiro que parecem enormes para estes homens que viveram sempre muito próximos da fome. Depois de um ou dois anos o dinheiro se foi e eles se tornam farrapos de gente, vivendo de favor na casa de parentes ou amigos, quando não nas ruas. Enquanto isso, os eucaliptos sugam toda a água da região, causando os primeiros problemas de abastecimento, secando riachos, diminuindo o volume d’água dos rios. Dizer que o Cerrado é um ecossistema é entender que nele tudo está interligado. Os eucaliptais desequilibram tudo, pois são as veredas e os pequenos riachos que alimentam os rios e a água, obviamente, é o recurso essencial para a permanência da rica flora e fauna. Conversei com um pequeno agricultor chamado Zé Cândido. O rosto marcado pela idade e queimado pelo sol, Seu Zé falou baixinho mas sem esconder a revolta:

Essa Zerdau não respeita nada, plantam eucalipto até nas nascentes. Vão acabar com tudo.