/OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 53: GRÃO-MOGOL

OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 53: GRÃO-MOGOL

OS SETE SEGREDOS DE FLORA

Capítulo 53: GRÃO-MOGOL

— Bola, é aqui que deve estar o X do problema.

— Tô contigo, Pedro, vamos continuar lendo.

16 de agosto de 2018

Rumo ao norte: seis horas de estrada de Três Marias a Grão-Mogol. Escolhi a pequena cidade e a região em torno por conta da onipresença do eucalipto. As vizinhas Botumirim e Crisália têm enormes áreas plantadas. No caminho para a primeira há uma avenida eucaliptal com o gigante devorador dos dois lados por quilômetros, é algo fantasmagórico, respira-se morte. Onde tem eucalipto não há pássaros nem outros animais. Para saber onde a praga ocorre, basta prestar atenção às placas colocadas avisando da saída de “caminhões longos”. Jamais a palavra eucalipto aparece, eles sabem bem o que estão fazendo. Fotografei tudo: o solo depois do desmatamento, as mudas plantadas, as árvores em crescimento e as que estão prontas para o abate seguido da sua transformação em carvão. Que vira aço: faca, canivete, vergalhão, panela, cabos, máquinas. O assassinato do Cerrado é lucrativo: a Zerdau atua em doze países e tem acionistas no mundo inteiro.

Nem tudo foi tristeza. No início da subida para Grão-Mogol passei pelo rio Itacambiraçu. Era um dia nublado e as águas estavam azuis em contraste com o leito de pedra clara. Pensei no Pedro. Ele querendo nadar comigo sem roupa. Parece índio, em casa só dorme nu e quando está na natureza quer logo ficar à vontade. As manias dele são muitas. Ele adoraria conhecer Grão-Mogol, nascida da busca por diamantes. É uma cidade de pedra, tudo é feito dela: as casas mais antigas, o calçamento das ruas, os muros, a Igreja de Santo Antônio. Um entorno de montanhas abraça a cidade.

Fiquei em uma pousada com uma bela vista do vale. Estava morrendo de fome e cansada de dirigir. Andei quinze minutos até o centro. Não foi difícil achar um lugar para almoçar. Difícil foi digerir com a televisão ligada no noticiário. Vamos eleger um presidente amigo dos que constroem impérios e acumulam riqueza proveniente da impiedosa destruição da natureza. Caminhando para o restaurante me senti vigiada por um homem que já vi mais de uma vez. Ou será apenas um reflexo do meu medo? Amanhã começo a trabalhar no campo.