/PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR ? – Capítulo 11: FEITIÇO

PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR ? – Capítulo 11: FEITIÇO

PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR?

Capítulo 11: FEITIÇO

A voz de Manuela era cautelosa, exploradora desbravando terra nova, de olhos e ouvidos bem abertos. Se preocupava com os efeitos de suas palavras sobre Pedro. Ele iria conhecer uma Flora que não podia imaginar.

— A infância dela foi muito feliz. O pai era dono de um haras perto daqui, ainda é…

— Ela me disse que os pais haviam morrido…

— Você vai entender. Peço que não me interrompa, depois pode perguntar à vontade.

— Pode deixar.

— Um haras é uma enorme propriedade com um pequeno riacho e muitos cavalos. Flora desde cedo se apegou a esses animais. Os pais diziam que ela gostava mais deles do que de gente. Exagero. Era uma menina gentil, nas fotos que me mostrou está sempre sorrindo, olhos vivos, o rosto lindo de criança e os cachinhos que davam vontade de pegar. Começou a falar muito cedo e falava muito, sobretudo sozinha com suas bonecas. Qualquer coisa lhe servia de brinquedo, com um graveto inventava um mundo. Desde que foi apresentada a papel e lápis, nunca mais se separou. Criava as histórias na sua cabecinha fervente e antes de saber escrever, desenhava. Muitas vezes os cavalos estavam nelas. Fazia perguntas sem parar, que os pais não sabiam responder. O pai é um bom homem, muito querido por todos, mas não sabe nada além de criar cavalos. A mãe era uma pessoa simples. Cuidava o melhor que podia de Flora e do outro filho, Rogério, por quem tinha uma clara preferência. Preocupava-se com Flora, não entendia como podia haver tantas perguntas numa cabecinha de criança. Incomodava-se com aquilo. Rogério, mais velho, tinha ciúmes da atenção que a caçula despertava. Quem a conhecia, via que a menina era única.

— Ela nunca disse que tinha um irmão…

— Pedro, já te pedi … Tudo corria bem. Além de ler, desenhar e escrever suas histórias, Flora amava cavalgar. Sempre descalça e de vestido. Se recusava a colocar sapatos e calça. Vivia passeando a cavalo com o pai pelas pequenas estradas de terra. Uma tarde, aos dezessete anos, montou sozinha em Feitiço, seu cavalo preferido, e demorou horas para voltar.

Ao chegar, Flora tinha uma expressão indecifrável no rosto. O vestido sujo de lama. Os pés cobertos de sangue …