/PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR – Capítulo 12: PONTO CEGO

PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR – Capítulo 12: PONTO CEGO

PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR?

Capítulo 12: PONTO CEGO

— Segundo o pai de Flora, ela desmontou do cavalo vinda de outro planeta. Não falava. Em passos pesados, caminhou até a casa, entrou e tomou um banho demorado. Se trancou no quarto, sem dizer nada. Os pais bateram à porta várias vezes. Ouviram-na tentar abafar um choro que vinha em ondas, uma ressaca de dor. Depois de duas horas, o silêncio.

Pedro fazia força para não chorar. Mais do que imaginar, sentia a dor de Flora.

— Só saiu do quarto na noite do outro dia. Tinha alguma fome. Mastigava lentamente, pensando a comida. Não levantava os olhos do prato. Continuava calada. Decidiram parar de indagar, deixá-la em paz com seus pesadelos. Ficou exatamente uma semana sem falar. Seu rosto, tão belo, agora era de pedra. Um dia apareceu à mesa com a cabeça raspada, sem os cachos que tanto prezava. Falava somente bom dia. Diante de perguntas alçava olhos de areia movediça e fazia um gesto suave com a mão espalmada servindo de escudo. Tudo isso que eu estou dizendo é uma possível reconstrução a partir do que ela mesma e os pais me contaram.

— O que pode ter acontecido com ela? Pedro perguntou com dois olhos boiando em tristeza.

— Eis o ponto cego dessa história. Ninguém sabe. E ela nunca quis me dizer. Aparentemente, o trauma foi tão grande que ela não conseguia trazer o episódio à tona. Exatamente por isso ela nunca te contou nada, Pedro, não conseguia.

— Mas agora está contando alguma coisa, ou não?

— Sim, mas à distância é mais fácil. Se você a rejeitar ela já estará distante.

— Jamais faria isso, ela é o amor da minha vida.

Manuela continuou a contar. Durante alguns meses, Flora permaneceu na casa dos pais, tomando a condução que a levava ao colégio, estudando o suficiente para passar. Comia feito um passarinho triste. Ficou magra, era uma sombra da Flora que todos conheciam. Um dia, do nada, desapareceu.

Os pais, desesperados, começaram uma peregrinação. Foram a hospitais, IML, avisaram à polícia, postaram no Facebook, colaram cartazes na região e no centro de Teresópolis. Ela parecia ter sumido da face da Terra. Imaginem só, uma moça de dezessete anos…

— E depois? Perguntaram ao mesmo tempo Bola e Pedro.