/PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR – Capítulo 13: BURACO NEGRO

PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR – Capítulo 13: BURACO NEGRO

PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR?

Capítulo 13: BURACO NEGRO

Depois… disse Manuela com voz de carro derrapando, depois Flora demorou seis meses para reaparecer.

— Onde ela estava? perguntou Pedro, curiosidade misturada com medo.

— Ninguém sabe. Havia um buraco negro na narrativa dela, fruto de traumas profundos. O indizível. Fiz o que pude, mas se o paciente se recusa a contar, só podemos esperar que um dia se abra uma pequena brecha e o discurso encontre um meio de vir à tona. Flora me falava de pesadelos mas não contava o conteúdo. Os olhos eram nuvens carregadas de sofrimento. Tivemos que interromper a terapia quando ela foi para a universidade, um ano depois.

— Ela foi para a federal do Rio Grande do Sul, não foi?

— Exatamente. Creio que foi o meio que conseguiu de fugir daqui, das lembranças do que ocorreu aqui.

— E a senhora continuou mantendo contato com ela?

— Sim. Nos falávamos por telefone de tempos em tempos. Ela parecia melhor. E depois que passou a morar no Rio ela me visitava, agora na condição de amiga, como você sabe.

— Ela falava de mim?

— Sim, muito, sempre com vida nos olhos e voz amorosa.

— Então, como a senhora explica o desaparecimento dela?

— Ela nada me disse. Mas me visitou há duas semanas. Estava emocionada. Me pediu para te dizer uma coisa.

— O que?

— Algo que eu não entendi: que a conversa comigo valia por três segredos.

Desceram a serra em silêncio. Só se ouvia o ronco do motor da Harley, um som hipnótico. Sonhava voltar para casa e encontrar Flora tirando uma sonequinha depois de uma longa viagem. Para despertar mais linda ainda, a cada dia mais bonita. Mas sabia o que o esperava: uma casa e uma vida de pernas para o ar, a saudade esmagando a alma, as mil teorias rondando a sua cabeça feito hienas. E aquele silêncio absurdo dos aposentos, um vácuo de som, o vazio de sentido. A impotência e a maldição da espera.

Quando estacionaram a moto diante do prédio, o Bola encontrou um motivo para esperança.

— Pedro, estava aqui pensando e me dei conta de uma coisa…

— Fala logo, Bola.

— Sabe o dia em que a primeira mensagem dela apareceu?

— O pior da minha vida.

— Era dia onze, dia do aniversário de vocês. No próximo dia onze vai aparecer outra…