PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR?
Pedro tinha aprontado no último dia onze antes do desaparecimento de Flora. Adorava surpreendê-la. Mas naquela sexta-feira se superou. Pegou emprestado o Ford Ka vermelho e foi buscá-la no trabalho. Ela não esperava.
— Isso tudo é saudade? Disse ela inclinando o rosto e mexendo nos cachinhos, a falsa timidez que o encantava.
— Saudade de você nunca passa, mas hoje vim aqui para um rapto consensual…
— Mais consensual do que isso, impossível…
Ele a levou para uma reserva ecológica a menos de uma hora e meia do Rio. Aquele lugar era um refúgio para ela. Uma antiga fazenda transformada em uma enorme área de preservação. Era cheia de lagos, árvores nativas e muitas flores. Havia lindos pássaros, inclusive o Saíra-Sete-Cores que ela adorava. A cereja do bolo era uma cachoeira intocada, um paredão de pedra de onde descia água cristalina. Era preciso caminhar duas horas numa trilha da mata. Fizeram boa parte do caminho de mãos dadas. Paravam para o beijo como se estivessem precisando de ar. Falaram pouco, ouviram o silêncio feito de amor. À noite, dormiram como se a paz existisse no mundo.
E agora, dois meses depois, cá estava ele, de olho no maldito celular, sem saber nada dela. Bola acompanhava o amigo, temendo que ele fizesse alguma besteira. Para passar o tempo, convenceu Pedro a disputarem uma partida de futebol de botão, faziam isso desde crianças. Era o grande clássico Botafogo A x Botafogo B, assim o Fogão sempre ganhava. A partida foi para os pênaltis. Pela primeira vez Bola viu o seu amigo distraído e quase feliz.
Apareceu uma mensagem no visor. Pedro voou para pegar o aparelho. A mensagem não era de Flora. Era de Manuela: “Boa tarde. Tenho que acrescentar um detalhe macabro: três dias depois da ida de Flora para a universidade no sul, o irmão dela morreu em um acidente com uma Scania. O motorista do caminhão, que sobreviveu, disse que Rogério acelerou e jogou o carro em cima do seu veículo.”
Pedro ainda tentava absorver esta notícia quando ouviu Your song e viu a nova mensagem de Flora: “Itaipava, doutor Cardoso”.
Que quarto segredo era aquele? O nome de um médico em Itaipava? O que aquilo significava?