/PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR? – Capítulo 17: LIBERDADE

PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR? – Capítulo 17: LIBERDADE

PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR?

Capítulo 17: LIBERDADE

Antes era o melhor da semana. Quinta-feira era o único dia em que não dava aula. Às vezes Flora conseguia sair mais cedo do trabalho e passeavam pela cidade, viam exposições, iam ao cinema. Ou simplesmente andavam por Laranjeiras, onde moravam. Flora adorava tomar iogurte gelado com morangos e chocolate na loja perto de casa. O programa de Pedro era ver Flora feliz. Agora temia a quinta-feira, muito tempo para pensar e pensar era pensar em Flora, em tudo que faziam juntos, em tudo que gostariam de fazer. Ela o chamava de tradicional, mas ele queria que fossem a Paris no mês de maio, o mesmo em que Riobaldo encontra Diadorim pela primeira vez. Agora o dia livre era dedicado à literatura.

Passou a ler sem parar, para dar uma trégua no seu pensamento. Começou a ler na adolescência, de forma curiosa. Aos quinze anos, era um bom jogador de basquete. Era o craque do time da escola e já treinava no Botafogo. Era um armador habilidoso e cerebral, mais passador do que arremessador. Gostava de colocar os companheiros em situação de cesta. A equipe ia bem no campeonato sub-17. Se vencessem o jogo contra o Tijuca, estariam na final contra o odiado Flamengo. Jogo empatado, faltavam cinco segundos. Pedro dá um drible no seu marcador e penetra no garrafão. Quando sobe para a bandeja sente um corpo arremessado contra o seu: o pivô adversário. Caiu pesadamente, jamais sentira tanta dor. Rompimento do ligamento cruzado do joelho, nunca mais voltou a jogar. Foi acolhido pela literatura, começou com policiais e de ficção científica, depois lia de tudo. A literatura deu-lhe compreensão do mundo e sensibilidade para as coisas humanas.

Sempre quis escrever um romance, mas a ideia não se firmava. Agora, em meio ao caos, entendeu as entrevistas de escritores. Diziam que eram obrigados a escrever. A grande inspiração era o desespero, escrever para não enlouquecer. Decidiu-se ao ler a frase de um conto de Silvina Ocampo: “Vivia dentro do meu personagem como uma criança dentro da mãe: eu me alimentava dele.”

Ali ele iria se abrigar: na palavra. Em sua forma mais perfeita: a ficção, única liberdade possível.