PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR?
Capítulo 25: CONSTELAÇÃO
Fechou os olhos e deixou que o calor do primeiro beijo tomasse seu corpo. Quando os abriu, olhou para o apartamento bagunçado, lembrou de onde estava, da situação em que se encontrava e sentiu o chicote da saudade. Aquela casa sem Flora era que nem o título de um livro de Lima Barreto, um cemitério dos vivos. E quem estava enterrado ali era ele, Pedro. Depois das primeiras semanas, em que arrumou o apartamento com fúria para tentar compensar a falta de Flora, Pedro começou a desanimar. A louça estava amontoada na pia. Há mais de uma semana não varria a casa. Não tinha ânimo para cozinhar e comia nos botequins do bairro.
De repente, uma ideia acendeu seu pensamento e sua esperança. No dia do primeiro encontro, antes de começarem a subir a ladeira, ele fora buscá-la em uma casa na rua das Laranjeiras. Parecia um centro de atividades esotéricas e terapêuticas, com uma lanchonete de produtos naturais no térreo. Flora disse que fazia uma terapia, mas jamais explicou qual era. E em todo o tempo em que estiveram juntos ela não mencionou mais tal tratamento. Ninguém vai fazer terapia à toa, talvez aquilo ajudasse a entender o que acontecera. Passaria no centro esotérico no dia seguinte, depois da aula.
Estava diante do quadro de atividades da casa. Reiki, Yoga, Dança bioenergética e Constelação familiar. Pediu explicações à moça do balcão, muito solícita com seu sorriso paz e amor. Descartou Reiki, esse negócio de imposição de mão e transferência de “energia vital universal” não parecia nem um pouco com a Flora. Não apreciava esoterismos, nem para horóscopo dava muita bola. Yoga e dança não são normalmente definidas como terapias. Restava a tal de Constelação familiar. A moça deu-lhe um panfleto que dizia assim: “A Constelação visa, de forma prática e vivencial, dissolver antigos padrões (conflitos e doenças que se repetem) familiares que de alguma forma impedem o livre fluxo de amor entre os membros de um sistema.”
Devia ser isso. Era mais um indício de que a questão familiar estava no coração dos problemas de Flora. Tinha que achar a terapeuta e ver se ela podia lhe contar alguma coisa.