PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR?
Capítulo 5: Dom Quixote e Sancho Pança
Bola era como Pedro chamava seu amigo Mauricio desde a sétima série. Os dois eram sem lugar no meio da turma de meninos ferozes. Pedro era alto e magro demais, Mauricio merecia o apelido. Ambos torciam para o Botafogo em meio a um mar de flamenguistas. Para Flora eram Dom Quixote e Sancho Pança. Com cara de sono, Bola veio voando socorrer o amigo.
— Cara, a Flora simplesmente desapareceu, deixou um bilhete e evaporou.
— Como é que é?
— Levou todas as coisas, até a escova de dentes.
— Vocês brigaram?
— Nunca houve tanto amor.
Ficaram os dois ali, bebendo silêncio. Bola foi na direção de Pedro com os braços abertos e apertou com força. Pedro mostrou o bilhete e o celular com o sete na tela. Bola pediu para dar uma olhada e explicou para Pedro que a pessoa que enviara a mensagem logo depois desligara o aparelho. Por isso Pedro não conseguira ligar para aquele número, coisa que ele fizera várias vezes. A opinião de Bola era de que Flora comprara um chip novo só para enviar esta mensagem e possivelmente outras. Pedro não entendia o motivo. Bola arriscou uma interpretação:
— Tem coisas que a gente simplesmente não consegue dizer, sobretudo para alguém que a gente gosta muito. Por medo de decepcionar, são coisas difíceis que a gente carrega feito um saco de pedras pontudas.
— Porra, Bola, isso é hora de fazer poesia?
— Olha só, Pedro, algo aconteceu e a gente não tem a menor ideia do que seja. Temos que usar a imaginação. Não é você que vive lendo romances policiais? Os detetives tentam entrar na mente dos criminosos, entender a razão dos atos que eles praticaram.
— Bola, sei que a Flora não fez nada de errado, eu dormia agarrado a essa mulher todas as noites.
— Quem disse que ela fez algo de errado? Pode ter sofrido maus tratos, abuso, algo que ela não consiga comentar com ninguém.
— E se ela simplesmente resolveu me largar?
— Pode ser, mas então qual o motivo dessa papagaiada toda de bilhete, celular com o número sete, coisa e tal?
— Realmente não faz sentido.
— Olha aí, o celular tá acendendo, deve ser outra mensagem.
Na tela, uma palavra: segredos.