PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR?
Capítulo 7: FANTASMA
Passou uma semana. Pedro virou um fantasma. Era professor de Geografia em duas escolas. Não havia ninguém que amasse mais a cidade. A praia de Botafogo das regatas chics do início do século XX. O centro revirado de cabeça para baixo na Revolta da Vacina. As favelas retiradas a ferro e fogo da paisagem. Passava pelas ruas e ia remontando a história de cada pedaço do Rio. Com a fuga de Flora, a cidade se tornou um campo minado. O Jardim Botânico onde caminharam de mãos dadas em um silêncio que tudo dizia. O Largo do Machado e o seu Café Secreto. Os jogos do Botafogo no Nilton Santos e os abraços que o faziam esquecer que tinha sido gol. O pequeno cinema de Santa Teresa onde viram o primeiro filme, molhado com beijos. O Andaraí do Samba do Trabalhador, onde descobrira que a branquinha tinha samba no pé. O Arpoador onde iam bem cedo, para mergulhar em um canto de águas calmas. É adorado pelas pessoas mais velhas e chamado de Cocoon. É o nome de um filme em que há uma piscina mágica, rejuvenescedora.
Pedro também estava precisando de um milagre. A alma estava engasgada. Arrastava a si mesmo de compromisso em compromisso, como se viver fosse um trabalho forçado. A hora mais temida? O momento de tentar dormir, quando as dúvidas o torturavam. Ela gostava de outro homem? Nunca mais voltaria? O amor tinha sido uma mentira? Estava doente? Pedro era uma ilha de tristeza cercada de lembranças por todos os lados. Ela enrolada na toalha amarela com tanto prazer que dava até ciúme. A voz dela, a modulação leve, viva, que tornava interessante e prazerosa qualquer história que contasse. Ele se pegava a ouvir e olhar embevecido para ela contando de uma ida ao supermercado ou da dificuldade de arranjar vaga para estacionar. Tinha um jeito curioso de andar, não era das mulheres empertigadas feito pavões, estava mais para uma patinha charmosa. Não trocara a roupa de cama para sentir seu cheiro até esvanecer. A sua beleza também não derivava da perfeição das formas. Era algo que emanava dela feito a lava de um vulcão em atividade. Aos pés do qual ele agora estava, soterrado.
No seu bolso, uma esfinge com tela e botões.