/PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR? – Capítulo 8: Your song

PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR? – Capítulo 8: Your song

PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR?

Capítulo 8: YOUR SONG

A principal função da memória é esquecer. Pedro lembraria de Flora até o último segundo. Mas ele precisava viver. Inventou ocupações. Arrumou a casa, fazendo de conta que poria tudo em ordem. Cozinhou e congelou refeições que esperava que fossem um dia divididas com ela. Fez poemas ruins. Em um deles dizia que um grande amor não acaba, mas vira dor. Em outro, perguntava onde ela tinha conseguido esconder o que haviam vivido. Só tinha coragem de mostrar para o Bola, que não dizia nada mas ficava com lágrimas nos olhos. Não parava de sonhar com Flora, dormindo e acordado. Ficava imaginando onde estava, o que fazia, se estava bem, com que roupa estava vestida, se sentia frio ou calor, se pensava nele. Se alguém tinha imaginado algo para enlouquecê-lo havia feito um bom trabalho. Voltou à academia. Não precisava emagrecer nem ficar forte, precisava suar e gastar o corpo para atordoar a alma destroçada. Por vezes, conseguia não pensar. Nos fins de semana, havia o Fogão, que ia mal, namorando a zona do rebaixamento. Mas ele e Bola estavam lá, torcendo, apoiando o que parecia ser uma causa impossível. Sem o Bola aquela travessia teria sido impossível.

Parecia ser mais um dia. Ao dormir, antes que Flora invadisse todos os espaços da sua imaginação ele repassava tudo que faria no dia seguinte. Tentava se tranquilizar com o fato de que teria uma jornada cheia de tarefas, que o ajudariam a continuar respirando. Ao acordar, já pulava da cama com o celular na mão, mas a tela fria apenas lhe repetia a velha mensagem: segredos. Enviara mil mensagens para o número, mas Mauricio lhe dissera que nenhuma delas chegara, havia só um v ao lado delas. O monstro, como ele chamava, continuava calado. Foi preparar seu café. Bola dizia que nem o Apocalipse seria capaz de tirar o apetite do amigo. À mesa, a miragem de Flora insistia em comer iogurte com granola enquanto ele devorava torradas com queijo minas. Foi aí que ouviu a abertura doce e as palavras sagradas na voz aveludada de Billy Paul:

It’s a little bit funny this feeling inside
I’m not one of those who can easily hide

No retângulo verde, finalmente, mais uma mensagem…